Em Setembro de 1975 passei algum tempo de férias perto de Viseu. Estávamos em pleno Verão Quente e, naquele mês, ocorreram por lá alguns incêndios florestais. Incêndios muito suspeitos, dizia-se. Os culpados só podiam ser os comunistas. Apesar da minha juvenil idade, mantive prudentes dúvidas sobre o assunto, e com razão. Descobriu-se mais tarde que os criminosos eram, afinal, os madeireiros. Mas, como nunca se apanhou um madeireiro a pegar fogo à caruma, entendeu-se que os culpados deveriam ser os pastores. Depois dos pastores vieram os comerciantes de produtos antifogo até que, recentemente, se descobriu que o incendiário é um sujeito de baixo nível educacional, alcoólico, com provável atraso cognitivo e que ateia fogos por motivos geralmente fúteis.
Mau grado se ter traçado o perfil do incendiário, em Outubro de 2017, os incêndios florestais carbonizaram mais de 50 pessoas e trouxeram nova luz ao problema. Afinal de contas, os culpados são todos os portugueses que vivem no mundo rural ou que por lá têm propriedades. É que o povo português, apesar de ser razoavelmente limpo e asseado, tem o mau hábito de não limpar as matas e os terrenos à volta das […]