O projeto rePLANT, que pretende dar a conhecer novas tecnologias e criar serviços nas áreas da gestão integrada da floresta e do fogo, tem um investimento de 5,6 milhões de euros e vai ser lançado hoje.
Em declarações à Lusa, Carlos Fonseca, diretor científico e tecnológico do ForestWISE – Laboratório Colaborativo para Gestão Integrada da Floresta e do Fogo, que fará a gestão do rePLANT com a The Navigator Company, contou que o projeto de âmbito nacional vai “fazer toda a diferença no setor florestal”.
O rePLANT, apoiado pelo Compete Portugal 2020, através dos programas POCI e Lisboa 2020, junta 20 entidades e envolve mais de 70 investigadores e técnicos especializados, sendo desenvolvido até junho de 2023.
Está dividido em três grandes áreas de ação e integra iniciativas como a monitorização da floresta através de câmaras óticas, o desenvolvimento de novos modelos de gestão florestal sustentável para as principais espécies florestais portuguesas ou o uso da robótica nas operações florestais.
“Este projeto surge no âmbito dos programas mobilizadores e constitui uma oportunidade única para criar as bases para a transformação que é necessária no setor florestal”, disse o diretor científico e tecnológico.
Segundo Carlos Fonseca, um dos pontos fortes é a junção de entidades, a união das empresas com maior relevância no setor florestal com empresas das áreas energéticas e tecnológicas que se associaram à academia e ao conhecimento para definir as melhores estratégias para esta transformação.
“Estamos a falar da valorização do mundo rural, um dos temas centrais do nosso país, e estamos também a falar da valorização das pessoas, da paisagem, que é muito relevante para outras atividades como o turismo”, salientou.
O rePLANT pode, segundo Carlos Fonseca, funcionar como ponto de partida para a transformação “em prol de uma floresta mais sustentável, mais ao encontro daquilo que vão ser as gerações futuras”.
O consórcio multidisciplinar reunido pelo ForestWISE vai implantar oito estratégias, estruturadas em atividades de investigação industrial de três grandes setores: gestão da floresta e do fogo (liderado pela Sonae Arauco e Instituto Superior de Agronomia), gestão do risco (REN e Universidade de Coimbra), e economia circular e cadeias de valor (The Navigator Company e ForestWISE).
“A primeira, gestão da floresta e do fogo, tem em vista a investigação de novos modelos, a investigação de uma das espécies mais comuns no nosso país, mas que precisa de uma visão mais específica, que é o pinheiro”, disse.
Esta linha de ação, acrescentou, vai contar com o envolvimento muito direto dos proprietários florestais e das suas organizações, nomeadamente na obtenção de informação que permita conhecer melhor a floresta que estão a gerir.
“Uma segunda linha, a gestão do risco, pretende criar sistemas de monitorização, de vigilância das florestas através da instalação de câmara óticas nos próprios postes de alta tensão da REN e que nos vai permitir obter informação real, meteorológica e da própria vegetação, do crescimento da vegetação, mas também pode dar informação sobre o comportamento do fogo e, com esta informação, até numa ótica de supressão de combate, termos um grande apoio à decisão”, contou o representante.
Por fim, a vertente da economia circular e cadeias de valor está vocacionada para a aplicação no terreno de tecnologias que permitam trazer valor acrescentado ao nível da biomassa.
“Naturalmente é aproveitada para diferentes fins, mas tem custos de operação e de retirada da floresta relativamente elevados, e há aqui todo um processo que envolve tecnologia e automação no sentido de reduzir custos das operações”, realçou.
Carlos Fonseca contou também que o projeto vai ter incidência em todo o país, mas grande parte das áreas-piloto está nas regiões do país com maior mancha florestal: Norte e Centro.
Ainda assim, os impactos estimados são a nível nacional e prevê-se que as tecnologias aplicadas e os modelos de gestão possam ser depois exportados para outros países, inclusive na bacia do Mediterrâneo, com características mais semelhantes a Portugal.
No que diz respeito aos resultados, Carlos Fonseca apontou para o médio/longo prazo.
“Estou em crer que a floresta terá resultados no médio, longo prazo. É a pensar nas gerações futuras, não é para ter resultados no imediato. Estamos a criar as bases para a transformação da floresta, para uma melhor floresta, mais sustentável e que traga riqueza, de facto, aos territórios e aos proprietários florestais”, concluiu.