Um grupo de cidadãos que criou o Movimento em Defesa da Mata dos Medos, uma reserva botânica no concelho de Almada, alertou para “brutais operações de corte e trituração de arvoredo” e agendou para sábado um protesto em Lisboa.
O assunto tem sido abordado em reuniões de Câmara e da Assembleia Municipal de Almada, com os munícipes a questionar a autarquia sobre as intervenções que têm sido feitas nesta reserva botânica, que integra a Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica.
Em 29 de dezembro, Nuno Dias, um munícipe de Almada questionou a presidente da autarquia, Inês de Medeiros, sobre “o abate indiscriminado de pinheiro manso”, indicando que alegadamente seria para venda de madeira, tendo ainda feito referência à construção de passadiços, considerando que terão impacto ambiental na reserva.
Inês Medeiros (PS) disse que a intervenção na zona não é da responsabilidade da autarquia e sim do Instituto da Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), e garantiu que o corte de árvores não tinha como propósito a venda de madeira.
“Os passadiços fazem parte de um projeto piloto do ICNF em várias zonas protegidas do território nacional. Há uma grande pressão durante a época balnear, era fundamental regular a circulação das pessoas na Mata dos Medos e agora as pessoas sabem que só podem passear nos passadiços”, disse.
A autarca acrescentou que existe ainda uma outra ação florestal a decorrer, independente dos passadiços, que “é fundamental para a redução da densidade, para potenciar que as espécies próprias e prioritárias como o zimbro o zambujeiro possam cobrir o solo denso”.
“Foram abatidas árvores em risco de cair”, explicou, adiantando que a intervenção não é da responsabilidade da autarquia, mas que a Câmara Municipal de Almada, no distrito de Setúbal, “apoia tudo é que feito para proteger a Mata dos Medos”.
Mas este não é o entendimento quer do Movimento em Defesa da Mata dos Medos quer de seis organizações de defesa do ambiente, que se insurgiram contra o que consideram ser “verdadeiros atentados” desenvolvidos nos últimos meses contra as áreas de conservação da natureza, acusando o Governo de ser um dos autores, dando como um dos exemplos a Mata dos Medos.
Numa carta aberta ao ministro do Ambiente e da Ação Climática, João Matos Fernandes, as organizações referem que “o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) tem efetuado brutais operações de corte e trituração de arvoredo, com os argumentos de prevenção de fogos e de controlo de espécies exóticas invasoras”, usando, diz-se na carta, maquinaria pesada em solos sensíveis, incluindo habitats como dunas e zonas húmidas, que “potenciam as emissões de dióxido de carbono, comprometem os solos e os recursos hídricos, destroem fauna e flora autóctone e acentuam o risco de incêndio”.
“O que se tem passado na Mata Nacional dos Medos, Reserva Botânica que integra a Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica, é elucidativo da destruição levada a cabo pelo ICNF”, dizem os subscritores.
Assinaram a carta a ACRÉSCIMO – Associação de Promoção ao Investimento Florestal, a FAPAS – Associação Portuguesa para a Conservação da Biodiversidade, o GEOTA – Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente, a IRIS – Associação nacional de Ambiente, a MILVOZ – Associação de Protecção e Conservação da Natureza, e a QUERCUS – Associação Nacional de Conservação da Natureza.
“Quando em 2017 um terrível incêndio assolou a Reserva Botânica da Mata dos Medos, uma onda de consternação e solidariedade tomou conta dos portugueses. Agora, no final de 2021, foram mãos humanas – através do abate massivo de pinheiros mansos – a deixar completamente ‘carecas’ diversas zonas nevrálgicas desta mata protegida”, refere o movimento na sua página oficial na rede social Facebook.
Na convocação de uma concentração de protesto para sábado, na Praça Luís de Camões, em Lisboa, o Movimento em Defesa da Mata dos Medos alerta que a situação está longe de ser isolada, existindo casos semelhantes noutras áreas protegidas, como a Reserva Natural das Dunas de São Jacinto, a Serra da Lousã ou o Paul do Taipal.
A Mata dos Medos situa-se na plataforma superior da Arriba Fóssil da Costa da Caparica, foi classificada como Reserva Botânica em 1971, devido à riqueza florística apresentada, e contem uma diversidade de espécies características do ecossistema de pinhal.