A Ucrânia e a Polónia iniciaram hoje negociações para chegar a um acordo, após Varsóvia ter proibido as importações de cereais ucranianos por receio de desestabilização do mercado agrícola nacional, decisão considerada “inaceitável” pela União Europeia (UE).
“Informamos que as negociações entre a Ucrânia e a Polónia sobre a exportação e trânsito da produção agrícola ucraniana para e através da Polónia ainda estão em andamento e continuarão amanhã, 18 de abril”, referiu à agência France-Presse (AFP) Tetiana Loupova, porta-voz do Ministério da Política Agrária ucraniano.
A UE suspendeu em maio de 2022, por um ano, os direitos aduaneiros de todos os produtos importados da Ucrânia e organizou-se para lhe permitir exportar os seus ‘stocks’ de cereais após o encerramento das rotas pelo Mar Negro, na sequência da invasão daquele país pela Rússia.
Os estados europeus vizinhos têm visto um aumento na chegada de milho, trigo ou girassol da Ucrânia, fazendo com que os silos fiquem saturados devido a problemas logísticos e os preços locais desçam, o que gerou protestos de agricultores e a saída do ministro da Agricultura polaco.
Alegando querer proteger os seus agricultores, Polónia, Hungria e Eslováquia anunciaram uma proibição temporária das importações de cereais e outros produtos agrícolas da Ucrânia.
De acordo com os ‘media’ polacos, o encontro entre a delegação ucraniana, liderada por Yulia Svyrydenko, ministra do Desenvolvimento Económico, e as autoridades polacas decorreu hoje em Varsóvia.
No domingo, Mykola Solsky, ministro ucraniano da Política Agrária, tinha referido que esperava “negociações difíceis” com vários países europeus, incluindo a Polónia, mas também Hungria, Eslováquia, Bulgária e Roménia.
A proibição das importações de cereais ucranianos “torna mais difícil” alcançar “uma vitória comum”, lamentou o governante ucraniano.
Já a UE, por sua vez, considerou hoje esta medida “inaceitável” e adiantou que está a “considerar” um segundo pacote de ajuda aos agricultores dos países afetados.
A Comissão revelou ter “solicitado informações adicionais às autoridades competentes para poder avaliar estas medidas”, nomeadamente a sua base legal.
“É importante frisar que a política comercial é de competência exclusiva da UE e que ações unilaterais não são admissíveis”, insistiu a porta-voz do executivo europeu, Miriam Garcia Ferrer.
“Nestes tempos difíceis, é crucial coordenar e alinhar todas as decisões dentro da UE”, acrescentou.
Também o Ministério da Política Agrícola da Ucrânia “lamentou” a decisão de Varsóvia no sábado.
“Os agricultores polacos estão a enfrentar uma situação difícil, mas os agricultores ucranianos estão a enfrentar a situação mais grave”, realçou.
Em 20 de março, Bruxelas ofereceu retirar 56,3 milhões de euros da reserva de crise agrícola da UE para apoiar agricultores afetados na Polónia, Roménia e Bulgária.
Mas no final de março, cinco países (Polónia, Eslováquia, Hungria, Roménia e Bulgária) solicitaram ajuda adicional “para apoiar os produtores agrícolas que sofreram perdas”.
Face às críticas da UE, Varsóvia defendeu que o organismo europeu devia ter reagido com a mesma rapidez quando a Polónia, Roménia, Hungria, Eslováquia e Bulgária enviaram uma carta à presidente da Comissão Europeia “há três semanas a pedir uma intervenção urgente”.
Esta é a primeira decisão polaca que contraria claramente os interesses ucranianos desde o início da guerra e o seu anúncio causou, segundo a imprensa nacional, “surpresa” em Kiev pelo seu alcance e contundência.
A Ucrânia tinha-se oferecido para limitar o volume de cereais exportados pela Polónia, mas Varsóvia optou por proibir completamente a sua entrada e estender a medida a outros produtos.