A organização ambientalista GEOTA alertou hoje que o açude da Murta, em Alcácer do Sal (distrito de Setúbal), “corre o sério risco de secar” caso seja aprovado o projeto de plantação de abacates previsto para aquele concelho.
Num comunicado de imprensa enviado à agência Lusa, o Grupo de Estudos de Ordenamento do Território e Ambiente (GEOTA) argumentou que este açude “é um ‘spot’ de biodiversidade e fornece água doce a inúmeras espécies de aves e mamíferos, entre outros”.
Mas, “se a plantação de abacate prevista para as Herdades de Murta e de Monte Novo, na região de Alcácer do Sal, avançar com parecer positivo da CCDR Alentejo, o açude da Murta corre o sério risco de secar”, pode ler-se na nota.
Ao alertar para o eventual desaparecimento deste açude, o GEOTA frisou que “não se trata tão somente de manter a diversidade de habitats, mas de concentrar esforços na mitigação das alterações climáticas, preservando e fomentando o uso sustentável dos recursos hídricos”.
O Projeto Agroflorestal das Herdades de Murta e Monte Novo abrange uma área total de 2.402,10 hectares da freguesia de Comporta e da União das Freguesias de Alcácer do Sal (Santa Maria do Castelo e Santiago) e Santa Susana.
O projeto inicial, da responsabilidade da empresa Expoente Frugal Lda, do grupo Aquaterra, contemplava a criação “de uma área agrícola de produção de pera-abacate com 722,24 hectares e de uma área florestal de produção de 1.415,85 hectares”, segundo o resumo não técnico do Estudo de Impacte Ambiental (EIA), disponível no portal Participa, consultado pela Lusa.
No entanto, a proposta, que não recebeu parecer favorável da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Alentejo, foi reformulada e entrou em fase de consulta pública, a qual termina precisamente hoje.
O projeto reformulado prevê agora uma redução da área de plantação para 658,44 hectares, uma alteração na área de estruturas e infraestruturas de apoio para 76,04 hectares, a eliminação do Centro Interpretativo da Zona Especial de Conservação (ZEC) Comporta/Galé e de dois dos 34 furos para captação de água previstos.
No comunicado divulgado hoje, o GEOTA considerou que “é de lamentar a falta de visão de empresas que apostam numa perspetiva de lucro/benefício imediato, camuflado por valores de competitividade económica e social, ao promoverem monoculturas tropicais de regadio intensivo”.
Este tipo de investimentos, alegou a organização ambientalista, “aos poucos descaracteriza a paisagem” e conduz “à exaustão dos recursos hídricos numa zona do país que há muito se encontra em seca estrutural”.
“A cultura do abacateiro exerce enorme pressão sobre os aquíferos e, se a CCDR Alentejo der o aval a mais uma plantação, neste caso com mais de 658 hectares, calcula-se que o volume de água subterrânea extraída por ano pela empresa promotora do projeto corresponderá a mais de 2.850 milhões de litros, alterando de vez o equilíbrio deste aquífero e consequentemente pondo em risco o açude da Murta”, alertou.
O açude é “essencialmente alimentado por uma nascente do aquífero freático que lhe permite ter água disponível todo o ano”, mas, “se os níveis de água subterrânea forem rebaixados pela extração intensa para rega, a nascente seca e a lagoa do açude pode secar”, insistiu o GEOTA.
O organização argumentou ainda que “as sucessivas aprovações de projetos agrícolas e turísticos, na sua maioria pela CCDR Alentejo, como autoridade de EIA, já permitiram a destruição de 30% da área da Zona Especial de Conservação (ZEC) Comporta-Galé, assim como o consumo excessivo de recursos hídricos”.