Um evento tão nobre, que move tanta fé deveria ter tido uma “Manual para o Peregrino” com recomendações efetivas para mitigar a pegada do carbono, que estivessem alinhadas com o Santo Papa, quando refere que …”deveremos travar a degradação ambiental e as alterações climáticas”…, promovendo verdadeiros compromissos com a sustentabilidade!
A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) está quase no final! Vieram peregrinos de todos os cantos!
Tem sido reconfortante ver tanta emoção e manifestação de espiritualidade, verdadeiros exercícios de fé, contagiantes!
Mesmo os que negam ter fé, mesmo esses, não ficam indiferentes a esta áurea especial, sobretudo perante Sua Santidade o Papa, conforta-nos a alma e enche o nosso coração!
Para quem é católico, a fé é a base de tudo!
Mas, para quem não é crente em Deus, a fé tem uma definição diferente! No dicionário: “Estado ou atitude de quem acredita ou tem esperança em algo”.
Mas quem já não acreditou num ser maior, em tempos de dificuldades? Desafio qualquer um, ainda que tenha sido única e em tempos idos, quem já não fez uma prece?
Eu sou crente! Por variadíssimas razões, porque a ciência não explica tudo e sobretudo porque acredito que os valores preconizados pela igreja são a base de todas as relações e ajudam a criar uma sociedade mais equilibrada, mais sustentável.
Sustentabilidade essa que tem de estar presente em todos os nossos atos, diariamente, pois caso contrário, não será mais que uma pretensão hipócrita!
Digo-o sem medos! Não sejamos hipócritas!
Então se deixarmos de comer carne, contribuímos para a sustentabilidade ambiental?
Então a carne, não faz parte da roda dos alimentos? Devendo ser consumida na porção recomendada?
Então a carne não tem nutrientes que não se encontram noutros alimentos? Ou em quantidades que evitam desequilíbrios nutricionais e consequentes patologias?
Então para se produzir carne, não é necessária a pecuária e a agricultura, atividades a montante fundamentais para fixar a população no interior, promovendo desenvolvimento que fazem criar riqueza em locais que estariam condenados à desertificação?
Não se pode ver a carne apenas num ângulo, há que avaliar este assunto em todas as suas dimensões! Há que identificar todos os benefícios que a carne traz e não apenas alguma consequência menos positiva.
Não sejamos hipócritas!
Comecei este texto referindo-me à grandeza da jornada mundial da juventude, e volto a este tema, para enaltecer todos os que se dedicaram de forma genuína e abnegada para que este evento se concretizasse-Os Voluntários!
Foram os voluntários, que numa capacidade imensa de entrega, deram da sua vida em prol dos outros, tornando possível que este evento acontecesse!
Raramente nos apercebemos do trabalho de bastidores, até por ser difícil quantificá- lo, razão pela qual, excecionalmente é reconhecido!
Contudo, até num evento magnificente como este, teria de haver uma “pedra no sapato!”
Neste, a pedra foi o “Manual para o Peregrino” que, infelizmente foi pouco refletido e dotado de pouco rigor técnico! Lamento que, e à boa maneira portuguesa, tenha sido feito em cima do joelho, apenas para que se fizesse alguma coisa, para desenrascar!
Pretendia a organização da JMJ incluir recomendações para confortar todos os que vieram a Lisboa, por contribuírem através da viagem, para a pegada de carbono e vai daí, toca de lhes recomendar: não comam carne!
Não seria necessário serem tão redutores, eu diria tão ambientalistas de secretária!
O lema da JMJ tem sido a alegria, a entrega aos outros, o amor ao outro, a exaltação da coragem de sermos nós próprios, porque somos amados como tal, talvez seja então de deixamos um enorme desafio:
-Sejamos com ou sem fé e com as nossas limitações precursores da sustentabilidade, tenhamos a coragem de responder ao chamamento do Santo Padre, exemplificando nas nossas casas e não apenas num tema e num período.
Não nos fiquemos só pelo que diz que se faz, aproveitemos de facto os valores deste momento espiritual excecional e apliquemos as mensagens que escutamos, no seio da nossa família, dos nossos amigos, das pessoas que precisam da nossa ajuda, e decerto que contribuiremos para a mitigação da tal pegada, a do carbono!
Entre muitas ações, avaliemos a necessidade de viajar, de férias, para os confins do mundo, e postarmos fotos de paraísos nas redes sociais. Tenhamos a capacidade de alterar os nossos hábitos e fiquemo-nos pelo nosso Portugal, aproveitando para dar de nós aos nossos velhos, que tanto precisam do nosso carinho e atenção, sem pressas!
Enchemo-nos de coragem, mensagem direta de sua santidade, tenhamos a capacidade de nos manter inquietos e tornemo-nos efetivos promotores da sustentabilidade, entregando-nos aos outros, os que de nós precisam!
Fonte: APIC