A Escola de Pastores, que arranca em maio e tem como sala de aula a Serra do Alvão, quer capacitar e atrair mais criadores de gado, promover o rejuvenescimento do setor e incentivar modos de produção inovadores.
O primeiro curso desta escola vai decorrer entre o início de maio e outubro, tem 15 vagas e vai conciliar as aulas teóricas, em formato ‘online’, com a prática, junto dos criadores de cabras ou vacas de raças autóctones.
O projeto foi apresentado hoje numa exploração de cabra bravia, em Cabanes, Vila Pouca de Aguiar, no distrito de Vila Real.
O proprietário António Manuel dedica-se à produção de cabrito de raça bravia e de vitelo maronês e entra na iniciativa com muita experiência para partilhar, mas também com vontade de aprender mais.
Para desenvolver esta atividade, disse, é preciso “o gostar e o saber”. É um trabalho diário, sem dias de folga e de férias conciliadas com o irmão que o ajuda e que, aos poucos, tem vindo a sofrer alguma inovação.
“Dantes o pastor não saía da serra e não tinha mais nada. Assim não pode continuar porque toda a gente desiste. Hoje já há outras condições, como as vedações, que nos ajudam”, explicou.
O primeiro curso intitula-se “Pastoreio Sustentável e Gestão da Paisagem” e a escola vai ter formadores, entre empresários e professores universitários, e também tutores.
Um dos tutores é Tiago Melim, de Carvas, Murça, produtor de cabra serrana, uma raça autóctone de Trás-os-Montes para produção de carne e de leite.
“Tem um maneio completamente diferente (…). A própria produção de leite, a ordenha, alimentação é completamente diferente de uma raça de carne de alta montanha”, explicou o criador.
A ideia, afirmou, é que o formando sinta logo no campo aquilo que aprendeu na teoria. O tutor vai acompanhar o formando ao longo do processo de formação, na implementação do plano de negócios e, depois, no início da atividade.
“O objetivo é que se tornem criadores de gado de sucesso muito mais rapidamente”, salientou.
Tiago Melim é natural do Porto, formado em informática, dedica-se agora à produção pecuária e apostou na mecanização para facilitar algumas tarefas, como a sala de ordenha mecânica que facilita o processo e permite ordenhar 24 cabras em simultâneo.
Recorre ainda ao pastoreio elétrico que permite manter os animais no pasto durante o dia, enquanto se pode dedicar a outras tarefas, e até consegue controlar a intensidade de pastoreio numa determinada área.
A escola é promovida pela Federação Nacional das Raças Autóctones (FERA), em parceria com a Aguiarfloresta – Associação Florestal e Ambiental de Vila Pouca de Aguiar.
Rui Dantas, presidente da FERA, destacou o objetivo de “valorizar a profissão de pastor” e referiu que a “produção de pequenos ruminantes está em queda” e “há problemas de conservação destas raças autóctones”.
“Queremos valorizar esta atividade porque, além da produção de produtos de alta qualidade, o pastor tem mais funções como ser um jardineiro da paisagem e promotor da diminuição de fogos florestais”, afirmou.
O projeto pretende atrair novos protagonistas e o rejuvenescimento da atividade.
“E capacitar os que já cá estão. Se o pastor estiver mais capacitado poderá ter um maior rebanho, com melhor produção, mas também com melhor trabalho e mais valorização dos lameiros e das pastagens de altitude”, afirmou Duarte Marques, da Aguiarfloresta.
Pretende-se, frisou, a integração das atividades da pastorícia com a gestão do espaço rural, como a agricultura e a floresta. “Tudo isto é um sistema que só funciona se todos os outros contribuírem. Entendemos que o pastoreio pode ser um aliado que pode ajudar na gestão florestal e na economia rural”, salientou.
O responsável alertou ainda para o risco do abandono da atividade.
José Manuel Almeida, 37 anos, vai inscrever-se no curso. É pastor desde pequeno, tem uma exploração de gado maronês e disse que “ainda há muito para aprender”.
Avelino Rego, produtor de maronês, entra na incitava como formando e tutor. “A criação de gado em regime extensivo requer conhecimentos de diversas áreas. Há valências em que eu estou mais à vontade e posso partilhar esses conhecimentos, mas há outras áreas em que sinto ainda uma lacuna de conhecimentos e vou aproveitar a oportunidade para aprender”, salientou.
A Escola de Pastores tem um financiamento de 53 mil euros atribuído pela Fundação ‘La Caixa'(programa BPI Rural).