Na edição 41 da Revista Vaca pinta, Xabier Iraola Arrigezabala escreve um artigo de opinião que todos os agricultores e responsáveis cooperativos e associativos deviam ler e meditar, para melhorar, sem receio de que seja uma “boca” dirigida a si ou um texto de alguém com ambição de ocupar algum cargo em Portugal. Vou partilhar aqui um resumo. O texto completo e original de “Desviar la mirada” está disponível online na “portada” da Vaca Pinta.
Xabier diz-nos: “Li com espanto o relatório sobre as perspetivas do efetivo pecuário para 2031, elaborado pelo Conselho das Câmaras de Agricultura de França, que prevê uma diminuição assustadora do número de bovinos. Segundo o relatório, o efetivo de vacas em aleitamento (…) vai reduzir 33% e o rebanho leiteiro 22%.
(…) Haverá quem pense que a queda do número de cabeças será compensada pelo melhoramento genético. Na minha opinião, até eles sabem que nem o melhoramento genético, que é necessário, compensará o desaparecimento das explorações agrícolas nem a redução drástica do efetivo pecuário.
Receio, no entanto, que os responsáveis pelas estruturas cooperativas, comerciais e industriais, em vez de se preocuparem com o futuro dos criadores de gado, estejam, de facto, alarmados com o seu próprio futuro.” (…)
Xabier considera que a situação em Espanha é igual, tendo em conta o envelhecimento do setor agrícola. E eu acrescento que Portugal está igual ou pior. Continua Xabier: “O alarme está a soar nos gabinetes de algumas destas estruturas e algumas consideram, como as grandes empresas alimentares, que, para manter as suas instalações de produção no máximo rendimento e o seu pessoal intacto, devem descer ao campo, comprar explorações agrícolas e/ou estábulos e contratar mão de obra, o mais barato possível, a fim de obterem as matérias-primas com que podem manter a sua estrutura e os seus compromissos comerciais com os seus clientes e, em particular, com as grandes cadeias de distribuição.
Neste momento, mais do que um de vós pode perguntar-se por que razão chegámos a este ponto em que temos uma rede agroalimentar cooperativa, comercial e industrial que funciona, enquanto a rede produtiva constituída por milhares de agricultores e criadores de gado que fornecem as cooperativas, as empresas comerciais e industriais está a diminuir gradualmente, mas sem parar, e, o que é pior, ninguém consegue ver uma saída para a situação.
A razão para tal, na minha modesta opinião, (…) é que os objetivos fundadores de muitas estruturas, de criar valor acrescentado para o produto e, assim, transmiti-lo aos produtores que dão sentido à cadeia, passaram para segundo plano e, por isso, atualmente, o que prevalece são os interesses e as prioridades dos funcionários e dos gestores destas estruturas e não os interesses dos criadores de gado, os compromissos com os clientes prevalecem sobre os compromissos com os fornecedores que são os seus agricultores, a saúde financeira das estruturas prevalece sobre a microeconomia das explorações e a manutenção do pessoal das estruturas prevalece, mesmo que seja à custa da redução drástica do sector pecuário.
Em suma, o que está a acontecer é porque desviámos o olhar do objetivo inicial e porque, ano após ano, ignorámos o produtor. É tempo de olhar os agricultores nos olhos.”
https://vacapinta.com/es/opinion/desviar-la-mirada.html
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.