A população mundial já enfrenta problemas graves de escassez de água, e esse cenário vai piorar nas próximas décadas. É urgente, dizem os especialistas, olhar para as fontes de água não convencionais, que podem disponibilizar mais água – e ainda são pouco utilizadas.
Recolher água do nevoeiro, reutilizar águas residuais, dessalinizar, mover icebergues. Perante o cenário de escassez de água à escala global que se agrava, é preciso aproveitar toda a água que existe, esteja onde estiver. É esse o alerta que lança o Instituto de Água, Ambiente e Saúde da Universidade da Califórnia (UNU-INWEH), apoiado pela Organização das Nações Unidas (ONU), no novo livro Recursos Hídricos Não Convencionais.
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“Chegou a altura da humanidade explorar as fontes de água não convencionais amplamente subutilizadas”, defende Manzoor Qadir, vice-presidente da UNU-INWEH. O livro deixa, no entanto, um alerta: as políticas nacionais de água e os planos de acção para explorar essas fontes exigem não só novas fontes de financiamento mas também uma avaliação dos impactos ambientais.
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O livro identifica seis grandes categorias de fontes de água não convencionais:
1. “Semear nuvens” e recolher gotículas do nevoeiro
A atmosfera contém cerca de 13 milhões de litros de vapor de água, e parte desse volume pode ser capturado através de uma técnica conhecida como “semear nuvens”: utilizando aviões ou drones (mas também é possível através de estações terrestres) são depositadas nas nuvens partículas de iodeto de prata que modificam a estrutura das nuvens, aumentando a probabilidade de chuva ou queda de neve. Nas condições certas, este processo pode aumentar a precipitação em 15%.
Quanto à recolha de água do nevoeiro ou da neblina é um processo que já acontece em países como o Chile, Marrocos ou África de Sul, através de redes de malha vertical. Os custos de instalação são relativamente baixos, tal como o impacto ambiental, e o retorno bastante positivo: num dia de nevoeiro intenso é possível recolher mais de 20 litros de água.
2. Dessalinização
A dessalinização já abastece 5% da população mundial e este valor deverá duplicar até 2030. Existem mais de 15 mil centrais dessalinizadoras em todo o mundo, que geram 86 milhões de metros cúbicos de água por dia (o equivalente a 34 mil piscinas olímpicas, que levam 2,5 milhões de litros de água cada). Mas o processo de transformação de água salgada em água potável tem custos – energéticos e ambientais. A chave estará no avanço da tecnologia para reduzir as necessidades energéticas e encontrar soluções para a salmoura, o resíduo que fica depois de se obter a água dessalinizada. Novas tecnologias que podem extrair sais, magnésio e outros metais da salmoura para produzir produtos comercialmente viáveis podem compensar o custo da produção de água dessalinizada na próxima década, acreditam os especialistas.
3. Reutilização de águas no sector urbano e agrícola
Ao nível das cidades, os sistemas de tratamento de águas residuais municipais têm mostrado ser uma fonte de água viável ao mesmo tempo que protegem as águas superficiais e subterrâneas de alta qualidade. Têm sido, de resto, utilizadas também para recarregar aquíferos, as massas de água subterrâneas. Actualmente, […]