A monitorização das águas subterrâneas em Portugal é insuficiente, mas há dados que indicam haver nalgumas zonas quantidades preocupantes de nitratos devido à contaminação de origem agrícola, alertaram hoje duas associações ligadas à água e ambiente.
O alerta surge na véspera do Dia Mundial da Água, proclamado pelas Nações Unidas e que se assinala na terça-feira.
O Dia Mundial da Água destaca “o ano para as águas subterrâneas” e as duas associações – a associação ambientalista Zero e o Grupo Português da Associação Internacional de Hidrogeólogos – apelam, em comunicado, a um uso inteligente da água e à proteção dos recursos hídricos subterrâneos, fundamentais especialmente em tempo de seca.
No documento, as associações lembram que Portugal tem e aproveita as águas subterrâneas, que representam 74% da água doce que é consumida no continente (quase 100% nas ilhas), a maior parte (89%) usada para irrigação.
No segundo ciclo de seis anos dos Planos de Gestão de Região Hidrográfica que terminou em 2021, análises recentes indicaram elevadas percentagens de agua subterrânea de quantidade e qualidade.
Porém, “no nosso país ainda temos redes de monitorização insuficientes e os dados relativos à presença de nitratos associados à contaminação de origem agrícola são preocupantes nalgumas zonas”, diz-se no comunicado.
As duas associações acrescentam que as águas subterrâneas são os “maiores tesouros enterrados” para lutar contra as adversidades das secas episódicas e das alterações climáticas, e são uma “realidade invisível” que merece ser reconhecida e deve ser gerida adequadamente.
A Associação Internacional de Hidrogeólogos (IAH), com outras entidades do setor e com base num questionário a hidrogeólogos, fez uma declaração sobre águas subterrâneas na qual, além de lembrar que essas águas são fundamentais para a sobrevivência no planeta, diz que é “imperativo proteger as águas subterrâneas, ameaçadas nalguns locais pela sobre-exploração e contaminação”.
“As águas subterrâneas em todo o mundo estão sob ameaça por causa do excesso de extrações e poluição. São um aliado essencial na luta contra a pobreza e a mortalidade infantil. Em muitos locais é a única origem de água. As águas subterrâneas suportam a própria sobrevivência das populações mais vulneráveis”, referem.
As águas subterrâneas abastecem mais de metade da população mundial e são a única fonte de água em muitos locais e a fonte para 40% da agricultura de irrigação.
A Associação Internacional de Hidrogeólogos, fundada em 1956 e com mais de 4.000 membros em 130 países, é a principal associação profissional, científica e educacional de e para todos os profissionais da área de planeamento, gestão e proteção de recursos hídricos subterrâneos.
Também a propósito do Dia Mundial da Água, a União para o Mediterrâneo, (UpM) uma organização de cooperação que junta 43 países, destaca em comunicado que 75% dos habitantes da União Europeia dependem das águas subterrâneas para o seu abastecimento, acrescentando também que o uso excessivo e a poluição das águas subterrâneas “apresenta um enorme problema em toda a região mediterrânica”.
As águas subterrâneas “moldam fundamentalmente a qualidade e função das zonas húmidas como parte do ciclo hidrológico”, sendo estas um refúgio de biodiversidade e de grande importância para atenuar os efeitos das alterações climáticas, diz-se no comunicado.
E acrescenta a UpM: “A região mediterrânica perdeu 50% das suas zonas húmidas naturais desde 1970. Há uma necessidade urgente de preservar as zonas húmidas do Mediterrâneo para ajudar as comunidades a suportar os impactos atuais e futuros das alterações climáticas, que ameaçam centenas de milhões de pessoas”.