O aumento generalizado da temperatura do planeta, além de afetar o clima, está também a afetar a capacidade dos agricultores em trabalharem e produzirem alimento.
Esta é a conclusão de um artigo divulgado recentemente na publicação ‘Global Change Biology’, realizado por uma equipa de investigadores dos Estados Unidos da América, do Reino Unido e da Austrália.
O estudo indica que as interações do ambiente térmico (definidas pela temperatura do ar, pela radiação solar, pela humidade e pela velocidade do vento), em junção com a atividade metabólica e o vestuário do agricultor, podem contribuir para um grande desconforto no que toca ao calor, o que afetará tanto a saúde como a produtividade dos trabalhadores ao ar livre.
De acordo com o artigo, “a capacidade física de trabalho começa a diminuir de forma mensurável em torno de 20°C de temperatura ambiente e diminui ainda mais à medida que a temperatura e a humidade aumentam e a exposição à radiação solar aumenta também, enquanto o arrefecimento trazido pelo vento pode reduzir esses efeitos”.
Assim, “para se defenderem contra a hipertermia, os trabalhadores diminuem a velocidade, de forma a reduzirem a produção metabólica de calor e o aumento associado da temperatura corporal”, o que diminui também a produtividade do trabalho agrícola manual.
Os autores antecipam que, até 2100, a produtividade dos trabalhadores agrícolas possa diminuir até 40% em regiões importantes para a produção de alimento, como o Paquistão e a Índia. E antecipam que os impactos possam atingir os 70% no sudeste asiático, em regiões do continente africano e na América do Sul.
O estudo explica ainda que a redução de capacidade de trabalho leva a que as explorações possam vir a precisar de contratar mais mão-de-obra ou, em alternativa, reduzir as áreas de cultivo. No entanto, os cientistas alertam que, uma produção mais reduzida, leva também a preços mais altos, colocando cada vez mais pressão sobre as populações vulneráveis.
De acordo com o artigo, os trabalhadores agrícolas estão, atualmente, a trabalhar abaixo dos 86% de capacidade e, por isso, estão já a ser adotadas soluções para colmatar este problema, inclusive fazer alterações no horário de trabalho, de modo que trabalhem em horas de menor calor ou mesmo à noite, algo que, segundo os cientistas, aumenta a produtividade entre 5% e 10%.
O artigo é claro, e adianta que “sem adaptação, a mão-de-obra será reduzida em várias partes do mundo”, deixando ainda a nota para os potenciais danos crónicos à saúde dos trabalhadores agrícolas decorrentes da exposição contínua a condições térmicas severas.
Os cientistas referem que a utilização de roupa mais leve e respirável, uma maior provisão de sombra e acesso a água para beber e molhar o corpo, aposta numa maior mecanização, bem como mudar os tipos de culturas para aquelas que cresçam nos períodos mais frios do ano, são algumas possíveis adaptações para combater o impacto do aquecimento global nos trabalhadores agrícolas.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.