A mudança no setor agrícola está a acontecer a um ritmo muito acelerado. Se olharmos para as capas das últimas edições da VIDA RURAL, fica muito evidente que a inovação e tecnologia avançam de forma imparável e todos os dias surgem novidades que podem revolucionar a forma como agricultamos.
E se há coisas que parecem mais do domínio da futurologia, existem outras que terão de ser postas rapidamente em marcha sob pena de não conseguirmos a necessária adaptação e mitigação aos efeitos das alterações climáticas e, simultaneamente, trabalhar na regeneração dos ecossistemas. Tudo isto sem perder capital produtivo e rentabilidade. Um desafio que parece ambicioso, mas que terá de ser superado.
E se há muito caminho a fazer na área da biotecnologia e da automação e mecanização de processos, há igualmente um enorme trabalho pela frente na forma como utilizamos os recursos, em especial a água. A eficiência tem sido um eixo onde as melhorias são muito evidentes, e neste campo Portugal está muito avançado (falo do espectro da agricultura profissional e capacitada). Mas parece evidente que ainda não estamos a fazer o suficiente no domínio dos regadios públicos e na gestão da água, em especial nas possibilidades de circularidade.
“[Em Israel] a dessalinização é feita, sobretudo, para abastecimento de redes públicas para consumo humano. Ou seja, não se regam culturas com água potável. A água utilizada em regadio agrícola provém do tratamento de águas residuais. Aliás, 90% destes efluentes são tratados para este fim: regar.”
Quando pensamos nas questões da dessalinização, um assunto sempre polémico, mas que tem de ser equacionado em algumas regiões, a grande referência é sempre Israel, país onde esta técnica é utilizada desde a década de 60 do século passado. Mas é preciso ter presente que Israel praticamente não utiliza água dessalinizada para a agricultura. A dessalinização é feita, sobretudo, para abastecimento de redes públicas para consumo humano. Ou seja, não se regam culturas com água potável. A água utilizada em regadio agrícola provém do tratamento de águas residuais. Aliás, 90% destes efluentes são tratados para este fim, regar. E assim se consegue fazer agricultura no deserto. Se fica barato? Não. Mas fica mais caro não fazer nada e ficar sem alternativas para viabilizar a agricultura de regadio a médio prazo.
Quando falamos em água, o custo não pode ser visto só em euros por metro cúbico. Produzir alimentos é imperativo e absolutamente estratégico. Garantir que temos recursos para o fazer também.
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.