A Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz trouxe o tema do regadio à Casa do Alentejo, em Lisboa, promovendo um debate em que se afirmou que uma primeira fase da obra do Circuito Hidráulico de Reguengos de Monsaraz estará concluída em 2025. Na mesa-redonda ficou ainda claro que o regadio é estratégico para a sustentabilidade do território, sendo fator de coesão.
Reguengos de Monsaraz, no Alentejo, tem aprovado, desde 2014, um processo de intenção da construção do Circuito Hidráulico de Reguengos de Monsaraz. Este projeto que levará água da Barragem do Alqueva a este concelho é composto por duas fases, sendo que a primeira fase tem três subfases: Bloco do Peral e Rede Primária; Rede Primária da Vigia, Estação Elevatória e Reservatório da Bragada e Reservatório da Furada; e a terceira é a Duplicação dos sifões na adução Álamos–Loureiro. A segunda fase integra duas subfases, que são o Bloco de Reguengos e o Bloco da Vendinha e Montoito.
Passados nove anos desde a publicação em Diário da República do Procedimento n.º 4965/2014, que tornava o projeto mais próximo da realidade, pouco se avançou e em termos de obra ainda nada foi feito. Esta é uma situação que preocupa a autarquia local e agricultores da região, que chegaram a investir em projetos agrícolas fazendo contas à disponibilização de água que, para já, não existe.
Este tema foi o mote para um debate intitulado “Água e Agricultura: Bloco de Rega de Reguengos enquanto base da sustentabilidade de uma região”, que decorreu dia 1 de junho na Casa do Alentejo, em Lisboa. A água foi destacada como elemento fundamental não só em termos económicos, mas também ambientais e sociais. Os vários intervenientes salientaram que a água permite fazer agricultura competitiva e rentável e esta preserva o território, assegurando que o mesmo não fica desertificado, enquanto permite gerar emprego e atrair população ainda no ativo, evitando-se assim o despovoamento que o interior do país vive há vários anos.
Marta Prates, presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz, recordou que o concelho é iminentemente agrícola e sobretudo dedicado à vitivinicultura que “injeta muitos milhões de euros no concelho e é com esses milhões que vivemos”, por isso “o bloco de rega é essencial para o concelho”. A autarca reforçou a ideia de que este projeto é estratégico para a sustentabilidade local.
“O bloco de rega é essencial para o concelho.”
Marta Prates, presidente da Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz
A mesa-redonda contou com a presença de dois agricultores que partilharam o impacto que a falta de água tem na sua atividade. Bruno Pateiro iniciou a sua empresa agrícola em 2011 e delineou o projeto tendo por base a premissa de que haveria água do Alqueva na sua herdade. Atualmente, desloca água entre propriedades numa cisterna transportada por um trator, tendo um custo, só em gasóleo, de 1700 euros por hectare. “Nestas contas, não estou a calcular o custo energético para a rega das vinhas”, explicou. Bruno Pateiro lamentou que Reguengos de Monsaraz tenha “ficado para o fim” no plano de expansão da barragem do Alqueva e mostrou-se muito preocupado, porque não sabe quanto tempo mais terá água para regar e sem rega as vinhas morrem.
Por seu turno, José Gonçalves apontou o dedo às políticas adotadas nos últimos anos que têm conduzido a um desinvestimento na agricultura. O agricultor alertou que “no âmbito do Programa de Desenvolvimento Rural deveriam ter sido gastos mil milhões de euros até dezembro de 2022 e ainda não aconteceu. Isto acontece por falta de opção política”.
Bloco do Peral e Rede Primária em 2025
Autarquia, empresários e a população em geral de Reguengos de Monsaraz têm agora os olhos postos no ano 2025, data em que se refere que cinco mil hectares do concelho ficarão com acesso a água da Barragem do Alqueva. José Pedro Salema, presidente da EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva, passou essa mensagem no debate, justificando que a obra ainda não teve início porque o processo de concurso teve uma litigância, ou seja, uma das empresas que apresentou proposta questionou o resultado do concurso. “Acreditamos que a água pode chegar até à Vigia [a Rede Primária da Vigia integra a segunda subfase da primeira fase do projeto] até 2025. Serão nessa altura cinco mil hectares com acesso a água”, disse José Pedro Salema.
“Acreditamos que a água pode chegar até à Vigia até 2025.”
José Pedro Salema, presidente da EDIA
Marta Prates relembrou que esta obra é imperativa para “dar continuidade aos projetos agrícolas já instalados e mesmo para atrair novos investimentos e fixar a população no território”.
Água tem de ser “desígnio nacional”
O ex-presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa, defendeu no debate que “a água tem de ser um desígnio nacional”, caso contrário o país entra “num processo de acelerada desertificação”. A presença de pessoas e de economia no território são as ferramentas necessárias para travar o avanço do “deserto” que cada vez mais se verifica nesta região.
Eduardo Oliveira e Sousa reiterou ainda a ideia de que é importante mudar opiniões públicas sobre a agricultura e a água, porque a primeira ideia que surge na mente das pessoas quando falamos em regadio “é culturas intensivas, que definem como más, culturas mal-adaptadas ao nosso território, etc. Temos de desmistificar estes pensamentos e explica que quando falamos em água para a agricultura não estamos a dizer que transformamos todo território em regadio”. Os projetos com recurso ao regadio serão uma parte do tecido económico da região que vai beneficiar outros que não pratiquem regadio, bem como a floresta.
“A água tem de ser um desígnio nacional.”
Eduardo Oliveira e Sousa, ex-presidente da CAP
Pedro do Carmo, presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura e Mar, relembrou o “sucesso” que é o Alqueva, destacando que o “regadio é sinónimo de coesão”. “O Alqueva foi um bom investimento público e mostra que, quando as pessoas têm infraestruturas sabem capitalizar”, concluiu.
A mesa-redonda marcou o arranque de quatro dias de uma ação promocional que levou a Lisboa o que de melhor se faz no concelho alentejano, desde a gastronomia e vinhos, à música e artesanato.
Artigo em colaboração com a C.M. de Reguengos de Monsaraz
O artigo foi publicado originalmente em Vida Rural.