O presidente da Associação Agrícola da Ilha Terceira (AAIT) apelou hoje à intervenção do governo e do parlamento dos Açores junto da cooperativa da ilha para tentar evitar a expulsão de 20 cooperantes por alegada concorrência.
“Penso que o papel do Governo Regional e dos deputados da Assembleia regional tem de ser interativo e têm de ter uma posição de defesa deste grupo de produtores, defesa da economia e da produção de leite da ilha Terceira”, afirmou o presidente da AAIT, José António Azevedo, numa audição na Comissão de Economia da Assembleia Legislativa dos Açores, solicitada pelo PS e aprovada por unanimidade.
Em causa está um processo de expulsão de 20 cooperantes da cooperativa agrícola Unicol, que acusa os produtores de fazerem concorrência à entidade, um deles por comercializar produtos de higiene de equipamentos de ordenha e os restantes por fazerem parte do capital social de uma nova fábrica de laticínios, que ainda não iniciou atividade.
Segundo José António Azevedo, a cooperativa, que detém 49% da Pronicol, fábrica que transforma 99% do leite produzido na Terceira, está a agir de “má-fé” e a tentar “por em causa uma nova indústria de transformação” na ilha.
“Este processo de expulsão destes produtores, que foram pioneiros e deram corpo às balas neste novo projeto, entendendo que era necessário ter mais uma alternativa na ilha Terceira, é a forma mais baixa de tentar aniquilar o projeto à nascença”, acusou.
Se forem expulsos, estes produtores podem continuar a entregar leite na Unicol, mas com preços e quantidades definidos pela cooperativa, explicou o presidente da AAIT.
“Os produtores ficam a negociar diretamente com uma única entidade, que já os expulsou de forma pouco ortodoxa e que tem claramente intenção de não ter concorrência”, apontou.
O presidente da associação agrícola alega que as acusações de concorrência “não têm fundamento”, até porque os 19 cooperantes têm, em conjunto, 10% das ações da nova fábrica e, por isso, “não têm poder de decisão, nem impacto direto nas negociações”.
“Nenhum deles teve qualquer atividade de concorrência à Unicol, nenhum deles deixou de entregar a sua produção à Unicol”, adiantou.
José António Azevedo disse mesmo há cooperantes da Unicol que entregam leite em outras queijarias e que são sócios de outra cooperativa, mas “nenhum deles recebeu qualquer ameaça de exclusão”.
O dirigente associativo criticou ainda a falta transparência do processo, alegando que a decisão será tomada apenas por 45 delegados, num universo de 700 produtores.
“Este processo vai ser votado na assembleia geral do dia 30 de março e essa votação é tudo menos uma votação clara e independente. Os 45 delegados da ilha Terceira vão votar em nome dos 700 produtores, sem ouvir estes mesmos produtores e estando condicionados pela posição da direção da Unicol, que já está a fazer reuniões com cada delegação individualmente”, avançou.
A nova fábrica foi considerada Projeto de Interesse Regional (PIR) pelo anterior executivo (PS) e pelo atual (PSD/CDS-PP/PPM) e a primeira pedra foi lançada em outubro de 2020, mas só deverá iniciar atividade daqui a dois anos.
José António Azevedo teme que os 19 produtores não resistam durante esse período, nas condições de produção impostas pela cooperativa, e que a fábrica não chegue a avançar.
“Quando a nova indústria tiver pronta para transformar já nem tem parte dos sócios fundadores no ativo para entregar leite”, alertou.
Segundo o dirigente sindical, a nova fábrica prevê transformar 60 mil litros de leite por dia, em queijo e manteiga, que quer exportar para fora do mercado europeu.
Por isso, defendeu que a Unicol teria a ganhar com a venda de leite a uma segunda unidade de maior dimensão.
“O conselho de administração da Unicol está a fazer a defesa não dos cooperantes, mas da transformação, em que só têm participação de 49%. A Unicol foi criada para defender os interesses dos cooperantes”, sublinhou.
O presidente da AAIT considerou que o executivo açoriano “não pode ficar indiferente” a esta situação, porque o monopólio coloca em causa a “viabilidade das explorações” agrícolas da ilha Terceira e influencia os preços do leite no resto do arquipélago.
“Os produtores de leite, se não tiverem uma nova indústria de laticínios na ilha Terceira, a breve trecho, provavelmente o que vai acontecer é o abandono do leite para a carne, que não traz o mesmo rendimento, não traz o mesmo emprego”, reforçou.
Também ouvido na comissão, o presidente da Associação de Jovens Agricultores Terceirenses (AJAT), Anselmo Pires, disse que o processo era “muito complicado” e que se fosse delegado teria de pedir “aconselhamento jurídico” para tomar uma decisão.
“Compreendo a parte dos produtores com a possível exclusão e também compreendo a parte da indústria que vê neles uma suposta ameaça”, afirmou.