Agricultores da região da Valónia, Bélgica, pediram hoje, no arranque da 10.ª Cimeira Europeia das Regiões e Municípios, alterações à política europeia para o setor agrícola e tiveram como resposta compreensão para os seus problemas.
Quatro tratores posicionaram-se hoje de manhã em frente a um dos pavilhões onde teve início a Cimeira Europeia das Regiões e Municípios, em Mons, na Bélgica, transportando faixas de protesto, onde se podia ler “sem deslealdade, viva o local” ou com uma forca com “Europa” escrita a tinta na trave.
Um elemento da Federação de Agricultores da Valónia (FWA, na sigla em inglês), Patrick Pype, explicou que não só na região, mas “em toda a Europa”, o setor agrícola está muito “revoltado contra a atual política europeia”.
O representante dos agricultores alertou para “a inflação da energia” e disse que não podem “continuar a tolerar importações maciças” de produtos como o trigo e a carne de regiões que não têm os mesmos condicionalismos impostos aos produtores europeus.
“É compreensível que tenhamos de ajudar a Ucrânia, mas não são apenas os agricultores que podem ajudar”, frisou Pype, acrescentando que a sua atividade “está a pagar por esta desorganização do mercado”.
Além disso, salientou, “a agricultura na Europa está a tornar-se cada vez mais regulamentada em termos ambientais”, o que leva a “uma perda de rendimento” nos “campos em toda a Europa”, enquanto camiões e navios transportam para o espaço europeu “produtos que não respeitam” esses condicionalismos ambientais.
O presidente do Comité das Regiões Europeu, Vasco Cordeiro, e o ministro-presidente da região da Valónia, Elio Di Rupo, escutaram as queixas dos agricultores e prometeram apoiar as suas reivindicações.
“Venho de uma família do setor agrícola e compreendo perfeitamente os problemas e desafios com que se deparam neste momento”, afirmou Vasco Cordeiro, assumindo-se como “filho de agricultores” e salientado que, na região de onde é oriundo, a produção leiteira tem “uma forte presença económica”.
O socialista e ex-presidente do Governo Regional dos Açores sublinhou que, do ponto de vista do Comité das Regiões Europeu, é essencial reconhecer a “importância de aspetos como as alterações climáticas” e as questões ambientais, mas isso não pode ser feito de qualquer forma, e “um setor como a agricultura precisa de atingir um ponto de equilíbrio” em “questões como o rendimento” e “alcançar objetivos que beneficiem todos”.
“Não dizemos que as alterações climáticas, a Ucrânia ou a globalização não são importantes, é claro que são, mas isso não pode ser feito sacrificando um dos elementos chave da economia da nossa sociedade”, frisou.
O ministro-presidente da Valónia defendeu que, do ponto de vista do presidente do Comité das Regiões Europeu, esta “transição ambiental” não deve pôr em causa “a dimensão social e a dimensão económica” e nem “os agricultores”.
Do lado do governo da região, Di Rupo prometeu continuar a trabalhar com o governo federal “as questões económicas” e dirá que é contra o acordo UE-Mercosul “na sua dimensão agrícola”.
A cimeira em Mons conta com 3.500 participantes, entre líderes locais e regionais e de instituições parceiras, para instar a União Europeia (UE) e os 27 Estados-Membros a capacitarem as regiões e os municípios para enfrentarem os desafios globais.
O investimento da UE para uma transição justa, a digitalização, a igualdade de género e a integração foram os temas principais das sessões do primeiro dia.
A cimeira assinalará ainda o 30.º aniversário do Comité das Regiões Europeu, instituído pelo Tratado de Maastricht.
O Comité das Regiões Europeu, criado em 1994, é a assembleia da UE dos representantes regionais e locais dos 27 Estados-membros, sendo atualmente composto por 329 membros efetivos, dos quais 12 portugueses.
A Cimeira Europeia das Regiões e dos Municípios acontece de dois em dois anos e foi criada com o objetivo de garantir que os órgãos de poder local e regional contribuem plenamente para os debates mais relevantes na UE.