A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) defendeu hoje que as estatísticas agrícolas evidenciam os “efeitos desastrosos de décadas de más políticas”, que a seca e a inflação não justificam, e acusou o Governo de fazer orelhas moucas.
“As ‘Estatísticas Agrícolas 2022’, referentes ao ano agrícola 2021/2022, divulgadas recentemente pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), confirmam os efeitos desastrosos que décadas de más políticas têm feito recair sobre o setor”, apontou, em comunicado, a confederação.
De acordo com os dados citados pela CNA, no período em causa, o rendimento da atividade agrícola caiu 11,7%, face ao ano anterior, penalizado pela queda do valor acrescentado bruto (-8,7%) e pelo aumento dos custos de produção em 23,7%.
Por outro lado, conforme notou, Portugal está, “cada vez mais”, dependente do exterior para alimentar a população, com o grau de aprovisionamento a descer em produções como a carne e o leite.
Destaca-se a dependência do exterior em cereais, que se mantém nos 80%, o que para a CNA é escandaloso e preocupante, tendo em conta que a campanha de inverno de 2022 foi “a pior de sempre”.
O défice da balança comercial agravou-se em 1.374,5 milhões de euros para 5.222,8 milhões de euros, lamentaram.
“Nestas circunstâncias, o Ministério da Agricultura e o Governo bem podem continuar a procurar desculpas e explicações para o cenário, mas não, a inflação ou a seca não explicam tudo”, sublinhou a CNA.
Esta situação tem condenado “milhares de agricultores”, sobretudo da agricultura familiar, ao “empobrecimento e ao desaparecimento”, disse a confederação, acrescentando que tem denunciado as más políticas e apresentado propostas, mas “o Governo faz orelhas moucas”.
Para os agricultores, os apoios anunciados chegam tarde e deixam os mais pequenos de fora, somando-se os cortes no Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC) para a pequena agricultura e a perda de apoios “decorrente da confusão de um PEPAC mal concebido pelo Governo”.
Perante isto, a CNA “renova a urgência de se inverter a política do apoio às grandes empresas do agronegócio, que produzem para exportar e colocar no mercado externo a salvação para as carências do país”, exigindo políticas públicas que apoiem quem produz e contribui para o aumento da produção nacional.
Estatísticas agrícolas confirmam efeitos desastrosos de décadas de más políticas