A Adega de Vila Real regista um “excesso” de entrega de uvas nesta vindima, em consequência da colheita “anormal” no Douro e de algumas empresas não estarem a comprar a produção aos viticultores, disse o presidente da cooperativa.
“Este ano verifica-se uma colheita anormal e temos aqui um défice que tem a ver com as casas do setor vitivinícola, que têm muito vinho na sua posse, têm grandes ‘stocks’, e parte deles não vieram à vindima”, afirmou Jaime Borges, referindo-se ao facto de grandes empresas não estarem a comprar as uvas ou estarem a comprar menos uvas aos viticultores nesta vindima, ao contrário de anos anteriores.
Em consequência, acrescentou, a Adega de Vila Real está a registar “um excesso de entrega de uvas”.
Esta semana, à porta da cooperativa formou-se uma grande fila de tratores e de carrinhas carregadas de uvas que se estendeu pela zona industrial de Vila Real, obrigando a várias horas de espera.
“Tem sido um pandemónio na receção de uvas diárias. Estamos a rececionar mais quantidade de uvas do que aquilo que a adega tinha para receber, mas, atendendo à necessidade que se verifica por parte do lavrador de entregar as uvas, eu tenho que pedir ao pessoal para fazer aqui um esforço”, referiu.
Por dia, estão a ser entregues em média 850 pipas, o que representa cerca de mais 200 pipas por dia do que no ano passado.
“Estamos mesmo no limite da receção”, frisou, acrescentando que, em consequência, foi decidido mandar parar as vindimas dos associados até à próxima segunda-feira.
Jaime Borges apontou também para dificuldades de armazenagem do vinho, referindo que a cooperativa se está a socorrer “de armazéns extras”.
Nas vinhas ainda há, salientou, muita uva por colher, insistindo que a colheita está a ser “anormal” e prevendo que a vindima, nesta adega, se prolongue até aos dias 11 a 12 de outubro.
A cooperativa tem cerca de 1.700 sócios, 1.300 dos quais entregam uvas, provenientes dos mais vários concelhos da Região Demarcada do Douro.
Jaime Borges disse que este ano há, portanto, mais sócios a entregar uvas na cooperativa e explicou que o aumento de procura nesta altura se poderá justificar com um adiar da colheita pelos viticultores que procuravam soluções para as suas uvas.
Questionado sobre o que significa para a adega o aumento de produção, o responsável disse que poderá ser vir a ser “um bocadinho negativo” pela dificuldade de “colocar no mercado estas quantidades de vinho”.
“Vamos ficar com ‘stocks’ muito grandes”, salientou, apontando, no entanto, que a cooperativa chegou a “meio de setembro com mais 13,5% de vendas”.
A adega produziu 14.200 pipas de vinho no ano passado e este ano prevê ultrapassar as 18.000.
A ordem de parar a vindima apanhou de surpresa viticultores como Manuel Heleno, de Fontelo, Abaças, que começou a cortar as uvas tintas na terça-feira, no mesmo dia da tomada de decisão da direção de cooperativa.
“Tinha o pessoal contratado para três dias e já não podem vir. Isto causa transtornos e de que maneira, não sei o que vou trazer na segunda-feira”, afirmou o produtor de 83 anos, que disse temer que a “uva se estrague mais na vinha” e que “desapareça”.
Manuel Heleno disse que entrega as uvas dos seus três hectares na cooperativa de Vila Real “há muitos anos”.
José Guerra, de 64 anos e de Sabroso, terminou a vindima e na terça-feira à tarde esperava pela entrega.
“A adega de Vila Real não tem culpa, este ano foi fora do normal, há bastante vinho”, salientou, referindo que, no seu caso, a produção foi “idêntica à do ano passado” e rondou os “dois mil quilos”.
Com outro emprego, José Guerra disse que a “agricultura foi uma herança dos pais” e que é sócio há dois anos daquela organização.
“A adega está até a dar um incentivo para as pessoas não abandonaram a agricultura”, referiu, destacando que a cooperativa “paga certinho” e que, se assim não fosse, “deixava também ficar a vinha a monte”.