O RAIZ libertou moscas Anagonia para reduzir de forma natural as populações de larvas do gorgulho-do-eucalipto.
O RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, laboratório de I&D detido pela The Navigator Company, a Universidade de Aveiro, a Universidade de Coimbra e a Universidade de Lisboa, através do Instituto Superior de Agronomia, realizou a segunda libertação de moscas Anagonia em parcelas geridas pela Navigator em Ribeira de Pena, no Alto Tâmega, junto à albufeira da barragem. Uma iniciativa quetem como objetivo reduzir as populações de larvas do gorgulho-do-eucalipto (Gonipterus platensis), contribuindo para minimizar os estragos e as perdas de madeira causados por esta praga.
A Anagonia lasiophthalma é uma mosca de tamanho médio que ataca as larvas do gorgulho-do-eucalipto. Os trabalhos com este inseto inserem-se numa linha de atividade do RAIZ designada por controlo biológico, que tem vindo a ser desenvolvida utilizando inimigos naturais – normalmente insetos parasitoides – para destruir os insetos que se alimentam do eucalipto. Um dos principais focos do controlo biológico tem sido o combate ao Gonipterus platensis.
Programa de controlo biológico
O primeiro inseto parasitoide a ser utilizado pelo RAIZ foi o Anaphes nitens, que ataca os ovos do gorgulho e foi introduzido em Espanha, de onde se dispersou para Portugal. No entanto, esta espécie, apesar de controlar o gorgulho na maioria do território, não é completamente eficaz em todas as áreas.
Sendo tanto o eucalipto, como o gorgulho, originários da Austrália, é lá que se encontram também os seus inimigos naturais e, por isso, em 2008, o Instituto iniciou prospeções na Austrália para encontrar outros insetos que atacassem o Gonipterus. Uma vez identificados, foram recolhidos no seu habitat natural e importados para o laboratório de quarentena do RAIZ, onde se aferiu a sua eficácia potencial para controlo do gorgulho e o risco da sua introdução na natureza.
Os estudos com Anagonia lasiophthalma, que parasita as larvas do gorgulho, iniciaram-se em 2017. Desde então, o RAIZ estudou a biologia do inseto, tendo observado que as fêmeas injetam os seus ovos dentro das larvas dos gorgulhos, que servirão de alimento àslarvas de Anagonia. Conseguiram-se, em laboratório, taxas de destruição das larvas do gorgulho na ordem de 30%.
Foi também avaliado o risco de introdução do inseto na natureza, em Portugal. Para tal, testou-se o comportamento das fêmeas de Anagonia quando lhes eram oferecidas larvas de insetos da fauna portuguesa, de modo a garantir que não existiam efeitos ambientais indesejáveis. Como não foi observado parasitismo ou interesse das fêmeas de Anagonia por qualquer das larvas testadas, os investigadores do RAIZ concluíram que o risco de introdução na natureza é negligenciável e que a relação de benefício vs. risco é favorável.
A introdução de um inseto não nativo, em Portugal, necessita da submissão de um pedido ao Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), cumprindo as normas definidas por regulamentos europeus e pela legislação nacional. Com base na informação obtida nos estudos executados e em informação bibliográfica, o primeiro pedido de libertação na natureza, preparado em outubro de 2022, foi deferido pelo ICNF em dezembro.
As libertações de Anagonia iniciaram-se em fevereiro de 2023, em Castanheira de Pera, em propriedades florestais geridas pela Navigator. Desde então, foram libertados insetos também em Arouca e Ribeira de Pena. É ainda de referir que o programa de controlo biológico do RAIZ tem vindo a ser desenvolvido em parceria com a Altri Florestal e com o Instituto Superior de Agronomia, tendo a Altri realizado largadas complementares de Anagonia em Figueiró dos Vinhos e Braga. No total, foram libertadas até ao momento cerca de 1400 moscas adultas.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.