Vou falar-vos da Terra onde se localiza a mais oriental cidade lusa, onde primeiro nasce o sol em Portugal e onde ainda se mantém viva a “Lhéngua Mirandesa“. Situada num planalto, forma uma escultura natural com as arribas do Douro internacional, criando um cenário que abrilhanta a vista e testemunha as minhas memórias sobre um tempo bem diferente do atual. Hoje, com muita tristeza, digo serem escassas as vezes que todo este cenário se cruza com presença humana.
Cada um de nós tem as suas memórias da Terra que é o nosso berço, sendo certo que intrinsecamente de lá nunca saí. Em mim, está sempre presente o inultrapassável tempo da infância. Tempo maior da descoberta dos sentidos e da aprendizagem da vida, que, com saudade, recordo para sempre. Sobre a minha Terra, para além das memórias inconfundíveis da minha gente, dos meus amigos para sempre, da liberdade, da luz, do som, das cores, dos sabores, dos cheiros que me estão colados, vibro, desde criança, com as histórias impressionantes que ouço. Memórias e histórias que despertam imediatamente em mim uma mistura de sentimentos: a enorme solidariedade para com todos os sacrifícios suportados pelas gerações anteriores, e o enorme orgulho de saber da coragem e da humildade dos Mirandeses para ultrapassar os maiores obstáculos e, se for caso disso, conquistar o mundo. Somos sempre e para sempre de Miranda em geral, e de todas as nossas aldeias e da minha vila de Sendim em particular.
Hoje, infelizmente, a minha Terra encontra-se profundamente despovoada, envelhecida, empobrecida, e marcada pelo êxodo rural e pela emigração. A pobreza que já se fazia sentir durante o Estado Novo impulsionou a fuga, em direção ao litoral, ao Brasil ou ao centro da Europa. Aqueles que resistiram foram observando o desaparecimento de inúmeras tradições agrícolas, de alguns rituais sociais,
Óscar Afonso, presidente do Observatório de Economia e Gestão de Fraude (OBEGEF) professor da Faculdade de Economia da Universidade do Porto