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– 27-09-2004 |
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Vindimas : Com as mãos sábias das mulheres e a tecnologia das máquinasAno após ano, com mais de 25 quilos de uvas à cabeça e muita sabedoria nas mãos, milhares de pessoas continuam a fazer as vindimas, uma actividade que teima em manter as tradições populares, apesar do avanço imparável das máquinas. Numa das herdades das Caves José Maria da Fonseca, o mais antigo produtor de vinhos de mesa em Portugal, cerca de 50 mulheres trabalham diariamente na colheita dos cachos e depois na poda das videiras, numa rotina que dura vários meses e que faz do vinho as suas vidas. No meio de 216 hectares, uma extensão a perder de vista na Península de Setúbal, apenas o som animado de vozes entre as uvas e o deambular de cestos carregados que surgem acima das videiras denunciam a presença incansável destas mulheres. "Pegamos às 08:00, almoçamos ao meio-dia, voltamos a erguer às 13:00 e despegamos às 17:00. É duro, mas tem de ser", conta Maria Adélia, de 56 anos, 14 dos quais dedicados a esta labuta. Com luvas nas mãos e chapéus de palhinha a proteger do sol, as "camaradas", como gostam de se chamar entre si, trabalham com rapidez e, diariamente, cada uma apanha mais de 500 quilos de uvas, carregando à cabeça, num vai-vem apressado, baldes que chegam a pesar 30 quilos. Aos 67 anos, Aurora Simões, ou apenas tia Aurora como é conhecida e tratada respeitosamente, é a mais velha a trabalhar nas vindimas da Vinha Grande de Aljeruz, uma actividade que iniciou aos nove anos e que, segundo confessa, já lhe deixa "sinais de cansaço" no corpo. "Ando desgraçada da espinha porque já ‘alombei’ muito peso na vida, mas as minhas camaradas vão-me ajudando", explica, bem-disposta, prometendo que vai continuar até a saúde o permitir, de forma a "ganhar uns tostõezinhos para quando for velha". Enquanto ajudam a José Maria da Fonseca a produzir anualmente cerca de 13 milhões de garrafas de vinho, 75 por cento das quais para exportação, as "camaradas" vão falando "dos filhos, do trabalho, das novelas e dos amores", conversas animadas que, entre "muita galhofa", ajudam a passar as horas. Já na Quinta de Camarate, outra das herdades da empresa, a poucos quilómetros de distância, as conversas dão lugar ao som ruidoso de três grandes máquinas que, hoje em dia, fazem praticamente todo o trabalho das vindimas. Alugadas a uma empresa francesa que as faz correr o mundo nas colheitas, do hemisfério norte ao hemisfério sul, cada máquina apanha cerca de 50 toneladas de uva por dia, quase 100 vezes mais do que uma trabalhadora. Conduzidos por um maquinista, os aparelhos "abraçam" a vinha e, em poucos minutos, "limpam" uma fila inteira, retirando apenas os bagos e deixando os cachos vazios, mas quase totalmente intactos. A eficácia das máquinas depende de um alinhamento perfeito das vinhas e da altura a que os cachos estão do chão, já que estas não conseguem apanhar uvas que se encontrem a menos de 20 centímetros da terra. "Praticamente todas as vinhas estão preparadas para serem vindimadas à máquina e isto passa-se já em quase todo o lado. Para vindimar o que três máquinas conseguem num dia, seriam precisas cerca de 300 pessoas", disse à Agencia Lusa o responsável pela viticultura, João Vila Maior. Além da mecanização permitir reduzir os custos da vindima, diminuindo a mão-de-obra necessária, os aparelhos fazem um trabalho que, pela sua dureza e sazonalidade, cada vez menos pessoas estão dispostas a realizar. "Cada vez é mais difícil obter gente para trabalhar no campo. As pessoas foram-se mudando para as cidades e daí a aposta na mecanização", adianta o responsável. Nos grandes produtores, a vindima manual representa já uma parte muito pequena da colheita e é sobretudo orientada para a produção de vinhos de lagar, as reservas de maior qualidade, que aproveitam o engaço (o "esqueleto" do cacho) e não apenas os bagos de uva, explica João Vila Maior. Nos campos, as mulheres sabem que a vindima está hoje muito diferente: "as máquinas avançam e há menos pessoas" e os filhos quiseram ter "as vidinhas deles", longe da vinha. Mas apesar do esforço, do cansaço e da mudança dos tempos, sabem que não querem largar a terra e rumar às cidades e à indústria, como fizeram muitos outros. "Não estamos fechadas. Andamos livres por aí. Quantas pessoas podem dizer o mesmo?", lembra a si mesma Maria José Neto, de 52 anos, sempre que lhe pesa o trabalho e lhe "adormentam" os braços.
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