O engenheiro agrónomo e ex-conselheiro do Presidente angolano Fernando Pacheco disse hoje que os solos angolanos “são pouco férteis” para a agricultura, por conterem “muita acidez e pouca matéria orgânica”, criticando a “propalada agricultura de larga escala”.
“É preciso acabar com a ideia de que nós temos solos muito férteis, infelizmente quando vem alguém do exterior, seja empresário, políticos ou consultores [é passada essa ideia]. É mentira que Angola tem os melhores solos do mundo, Angola não tem nada os melhores solos do mundo, os nossos solos são pouco férteis, muito ácidos e com muito pouca matéria orgânica”, afirmou hoje Fernando Pacheco.
Para o conhecido agrónomo angolano, 74 anos, a resolução da problemática dos solos angolanos, cuja estatística oficial aponta para 6 milhões de hectares cultivados anualmente no país, passa por investimentos em calcário para a sua correção.
“Sem investimentos esta questão não se resolve: o investimento é pensarmos daqueles 6 milhões de áreas semeadas se conseguirmos fazer a correção, o que significa incorporar calcário, para baixar o nível de acidez”, realçou.
“E esta é uma grande oportunidade que aqui está e que não é equacionada, falamos em produção de larga escala, o que não é verdade, quando deveríamos pensar em obter resultados e investir corretamente onde deveríamos investir, sobretudo no calcário”, argumentou.
Segundo Fernando Pacheco, que falava sobre os “Desafios e Oportunidades na Cadeia de Valor da Agroindústria em Angola”, durante o XII Fórum Economia e Finanças: Diversificação Económica e Mercados Financeiros, promovido pela Associação Angolana de Bancos (ABANC), a terra constitui um dos fatores limitantes do desenvolvimento agrícola no país.
Na sua exposição, o também consultor apresentou os números oficais do sistema agrícola nacional, referindo que o país conta com 35 milhões de hectares de terras aráveis, 6 milhões de hectares cultivados anualmente (16%), 2,2 milhões de agricultores familiares/informais e 5.858 empresas agrícolas.
Os números apresentados referem também que 66% da terra cultivada em Angola é trabalhada com instrumentos manuais, 6% com trator e 28% com tração animal, sendo que cerca de 50 mil toneladas de fertilizantes são utilizadas anualmente para o tratamento de 100 mil hectares, menos de 2% da área cultivada.
Pacheco apontou também, na sua intervenção, a terra, a água, as sementes, fertilizantes defensivos, tratores, vias de comunicação, distribuição, crédito e financiamento como fatores que limitam o desenvolvimento da agricultura em Angola.
O especialista defendeu a necessidade da preservação da terra para os angolanos, sobretudo para os mais pobres que vivem nas áreas rurais, por este ser o único bem capital para a sua sobrevivência, reprovando as concessões de terras por longos períodos.
Apontou ainda a capacitação técnica dos profissionais do setor como entrave para o desenvolvimento agrícola, recordando que só o Ministério da Agricultura e Florestas de Angola necessita de mil técnicos e o Orçamento para 2024 prevê apenas a contratação de um total de cerca de 1.000 técnicos.
O fórum, centrado na diversificação da economia angolana, visou igualmente assinalar os 25 anos da ABANC, entidade que representa o setor bancário em Angola e que conta com 25 associados.