A oposição quer explicações do Governo sobre as declarações da secretária de Estado da Proteção Civil à SIC. Patrícia Gaspar defendeu que a área ardida em Portugal é 30% inferior ao esperado. Ao que a SIC apurou, a afirmação é baseada em dados do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que apontavam para uma previsão de quase 140 mil hectares de área ardida até 15 de agosto.
Desde o início do ano, o rasto do fogo superou os 100 mil hectares de área ardida. Mas, quando, na passada sexta-feira, a secretária de Estado da Proteção Civil falou à SIC, os dados ICNF davam conta de 93 mil hectares de terreno consumidos pelo fogo – três vezes mais do que o total do ano anterior, mas menos do que o Governo esperava.
“Se considerarmos a severidade meteorológica, os algoritmos e dados dizem que a área ardida que deveríamos ter deveria ser 30% superior. Significa que apesar da complexidade, o dispositivo tem estado a responder bem“, disse a secretária de Estado.
A oposição não gostou do que ouviu: o Chega quer o Ministro da Administração Interna no Parlamento para esclarecer se mantém a confiança na Secretária de Estado; o PSD lamenta a insensibilidade, condena declarações desnecessárias e desrespeitosas para com as vitimas dos incêndios e quer saber qual é o estudo que sustenta as afirmações de Patrícia Gaspar; também a Iniciativa Liberal já questionou o Governo sobre a autoria dos estudos mencionados e sobre que projeções é possível fazer com base nos tais algoritmos.
Contactado pela SIC, o Ministério da Administração Interna esclareceu que a secretária de Estado se baseou nos dados mais recentes do ICNF – dados da última quinzena, que ainda não foram publicados. A pedido da SIC, o ICNF enviou um excerto do mais recente relatório provisório de incêndios que abrange o período até 15 de agosto, e que terá servido de base às declarações da secretária de Estado.
Diz o relatório que o total de “área ardida ponderada” até 15 de agosto seria de quase 140 mil hectares, valor que se obteria se todos os incêndios seguissem o comportamento médio histórico face à severidade meteorológica do dia e do local em que ocorreram. Tendo em conta que a área ardida real estava, no momento da entrevista, nos 93 mil hectares, o valor corresponde aos cerca de 70% que falava Patrícia Gaspar.
Ao que a SIC apurou, esta costuma ser considerada informação técnica, normalmente utilizada para que as estruturas de Proteção Civil possam gerir melhor a distribuição de meios. Patrícia Gaspar decidiu usá-la como argumento político, para defender que apesar de tudo a resposta dos meios no terreno tem permitido evitar um cenário que podia ser ainda pior.