Um projeto da CELPA é o único efetivo no concelho que visa estimular o investimento, a biodiversidade e a resiliência da floresta.
Passados quase cinco anos sobre os incêndios que deixaram marcas profundas no concelho de Pedrógão Grande, um projeto piloto e emblemático está a mudar a floresta da região. Promovido pela CELPA – Associação da Indústria Papeleira, o “Replantar Pedrógão” é um projeto de reflorestação que visa estimular o investimento a par da biodiversidade, mobilizando proprietários, associações e poder local em torno de uma floresta que é nova e, acima de tudo, diferente da que existia.
O “Replantar Pedrógão” é apoiado pela CELPA – Associação da Indústria Papeleira, que financiou integralmente os custos de elaboração dos projetos de licenciamento e a preparação dos terrenos, e ainda ofereceu plantas e adubos.
Depois de cerca de 100 hectares plantados na primavera de 2021, que envolveu 32 proprietários locais, o sucesso da iniciativa levou a CELPA a decidir avançar para uma segunda fase. Serão mais cerca de 80 hectares, cujas áreas estão a ser agregadas e identificadas, e os seus proprietários convidados a participar e a beneficiar de uma gestão florestal certificada, que lhes vai proporcionar um maior rendimento.
Este projeto de reflorestação pretende agregar pessoas e melhorar a floresta, otimizando e facilitando a sua gestão, mas também estimular o investimento e a biodiversidade dos povoamentos, assim como a diminuição dos riscos associados aos incêndios. No fundo, dar um novo ânimo a uma população rural que tem desesperado por apoios e medidas para recuperar a vida na floresta, base de desenvolvimento social e económico da região, mas cujo retorno é sistematicamente comprometido pelo abandono, a ausência de gestão e a fragmentação da propriedade.
“Pode vir a ser a floresta ideal”
“Infelizmente, e apesar das promessas feitas em 2017 e 2018, muito pouco ou quase nada foi feito na floresta desta região”, afirma Dina Duarte, presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão (AVIP), satisfeita pela iniciativa da CELPA. “É o único projeto efetivo de reflorestação na região, com uma plantação estruturada e organizada, que faz parte do que pode vir a ser a floresta ideal.”
“Uma plantação estruturada e organizada será mais difícil de ser penetrada pelo fogo. Mas se isso acontecer, tem condições para tornar mais fácil o combate ao incêndio”, diz Dina Duarte, presidente da Associação de Vítimas do Incêndio de Pedrógão.
Dina Duarte gostou do que viu nas áreas já reflorestadas – “percebe-se bem a diferença entre o que está organizado e o que não está” –, desejava que existissem ainda mais espécies, “para lá daquelas que foram plantadas”, e reconhece que “o eucalipto é, efetivamente, em termos de riqueza e produção, uma solução para os proprietários”. “De resto, uma plantação organizada será mais difícil de ser penetrada pelo fogo. Mas se isso acontecer, tem condições para tornar mais fácil o combate ao incêndio”, prossegue.
Apontando a divisão da propriedade, demasiado reduzida, como o maior problema para o desenvolvimento do Interior, a presidente da AVIP recorda a importância socioeconómica da floresta. “A floresta foi sempre uma forma de os nossos avós, pais, e até alguns de nós, conseguirem ter uma rentabilidade. Era o nosso depósito a prazo. Ter uma plantação de pinheiro ou eucalipto permitia que, em determinada altura da vida, um filho fosse tirar um curso, fosse usada para comprar um carro ou melhorar as condições de vida da própria casa”, acrescenta.
Com muitos proprietários sem capacidade para gerir as suas propriedades e muitos herdeiros ausentes, e sem saber que terrenos lhes pertencem, a floresta está hoje ao abandono e “em muitas zonas é uma selva impenetrável”, constata ainda Dina Duarte. E deixa um aviso: “Se nada for feito pela floresta, na prevenção e na limpeza de matos junto às aldeias e vias de comunicação, corremos o risco de termos um qualquer outro 17 de junho, com consequências tão graves como as que tivemos em 2017.”
Simples, profissional e desburocratizado
A iniciativa da Associação da Indústria Papeleira contou com o apoio técnico da Altri e da Navigator para o desenho de uma paisagem em mosaico que recupera a produtividade florestal de eucalipto, a par da introdução de outras espécies florestais, como medronheiro, pinheiro-bravo e folhosas autóctones. Refira-se que a CELPA financiou integralmente os custos de elaboração dos projetos de licenciamento e a preparação dos terrenos, e ainda ofereceu plantas e adubos.
“A adesão dos proprietários superou as nossas expectativas”, afirma Tânia Ferreira, da Associação dos Produtores e Proprietários Florestais do Concelho de Pedrógão Grande (APFLOR), entidade envolvida na divulgação e angariação de proprietários de áreas ardidas de eucalipto e em subprodução, para além de acompanhar a execução das operações de reflorestação.
“O facto de se tratar de um programa simples, profissional e desburocratizado e, sobretudo, por haver ação concreta no terreno, motivou a mobilização dos proprietários”, diz Tânia Ferreira, destacando os méritos do projeto: “As mais-valias passam pela certificação florestal, pela redução do risco de incêndio, pelas boas práticas na preparação do terreno e na plantação, assim como no apoio técnico continuado, o que promove a confiança e a sustentabilidade do programa junto dos proprietários.”
Refira-se que os proprietários beneficiam ainda da construção e manutenção de mais de 30 quilómetros de caminhos e aceiros, custeando apenas os serviços de plantação.
Gestão apropriada da floresta
Sofia Ramos, do Gabinete Técnico Florestal (GTF) do Município de Pedrógão Grande, destaca a importância deste tipo de iniciativas no ordenamento da floresta, “na medida em que trabalha com os proprietários de forma agrupada, permitindo a instalação e a gestão de povoamentos com escala territorial, e relevância ao nível do desenvolvimento social, económico e ambiental”.
“O recurso a técnicas adequadas de instalação e de manutenção dos povoamentos, incluindo a utilização de plantas melhoradas, aumenta a produtividade, o que, consequentemente, irá aumentar o rendimento para os proprietários”, prossegue a técnica florestal, salientando “o respeito pelos ecossistemas enquanto são realizadas as intervenções e a introdução de outras espécies, o que aumenta a diversidade específica existente”.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.