Silagem de erva
Silagem de milho
Recebi uma mensagem a perguntar qual é a diferença entre “silagem de milho” e “silagem de erva”. Para os colegas agricultores a resposta é obvia, mas o objetivo das minhas publicações é comunicar com quem está fora do setor agrícola para mostrar como produzimos os alimentos, cultivamos os campos e criamos os animais.
A silagem de erva é erva “fermentada” e a silagem de milho é o resultado da fermentação de toda a planta de milho. A silagem de milho é mais energética e mais usada para alimentação das vacas leiteiras. A silagem de erva é mais rica em proteína, podendo ser usada na alimentação das vacas ou das novilhas em crescimento. Nos países mais a norte, onde o frio impede o milho de crescer, a silagem de erva é a única opção. Depois os agricultores, com ajuda dos nutricionistas, equilibram o bolo alimentar das vacas com rações à base de subprodutos de cereais, (por exemplo destilados de milho), oleaginosas (por exemplo bagaço de soja), polpas de beterraba, citrino, etc.
Como já escrevi num texto anterior nesta página, “o milho é cortado e ensilado diretamente, quando tem cerca de 30-35% de matéria seca. Como a erva verde, na primavera, tem muito mais humidade, o que iria dificultar a fermentação, cortámos, espalhamos e deixamos secar 2 ou 3 dias antes de recortar, carregar para os reboques, transportar para o silo, calcar a silagem para tirar o máximo de oxigénio e cobrir com plástico para que não possa voltar a entrar oxigénio. Se houver um buraco no plástico do silo (ou do rolo de erva plastificado) o oxigénio que vai entrar vai permitir o desenvolvimento de bolores e apodrecimento da matéria vegetal.
O processo de conservar forragem sob a forma de silagem é antigo, tendo já sido usado por egípcios e romanos, em fossas, silos e depois em barris de vinho, durante a época medieval. No século 19 o processo de ensilagem desenvolveu-se na Europa e chegou aos Estados Unidos.
Este processo de conservação baseia-se na fermentação láctica da matéria vegetal rica em açúcares, nomeadamente milho ou ervas como azevém, trigos, aveia, cevada, em que as bactérias lácticas, na ausência de oxigénio, degradam a matéria orgânica produzindo ácido láctico e outros ácidos orgânicos, baixando o pH, o que permite a conservação ao longo de todo o ano, podendo-se assim aproveitar as plantas da época de maior produção para alimentar os animais ao longo de todo o ano de forma estável e regular. Perdem-se alguns nutrientes em relação à erva fresca, mas a silagem é mais nutritiva e digestiva que o feno.
É possível que algumas pessoas tenham a ideia que alimentar as vacas com silagem é um processo moderno e artificial, por oposição à alimentação direta na pastagem com erva fresca. Pelo contrário, como expliquei atrás, a silagem é um processo natural com milhares de anos. Nem todos os países ou regiões têm condições de pastagem durante todo o ano ou possibilidade para deslocar os animais ao pasto. Por isso as silagens de milho e erva são a base da alimentação das vacas que produzem a maior parte do leite no mundo.”
#carlosnevesagricultor
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.