O projeto Adaptation, de um consórcio europeu liderado por instituições portuguesas, vai inspirar-se na fotossíntese para criar um nanodispositivo que consiga absorver energia solar e convertê-la em eletricidade, replicando a eficiência deste mecanismo natural das plantas.
Criar um nanodispositivo flexível e capaz de aderir a variadas superfícies (um carro, uma casa ou a pele humana), para lhes fornecer energia, regulando a própria temperatura. Eis o objetivo a que se propõe o projeto Adaptation, que procura aprofundar e reproduzir mecanismos da natureza – designadamente da fotossíntese – para conseguir captar energia solar e convertê-la em eletricidade com a máxima eficiência.
O projeto é coordenado pela investigadora Sara Núñez-Sánchez, integrada no Centro de Física da Escola de Ciências da Universidade do Minho, que explica, em comunicado: “no caso das plantas, a sobrevivência não depende tanto da quantidade de energia que absorvem, mas sim de transportarem essa energia de forma muito eficiente”. Esta eficiência da fotossíntese está indexada a processos biológicos que ocorrem a nível microscópico, estudados pela biologia quântica, e são eles que os investigadores querem aprofundar e imitar a nível molecular nos materiais que vão servir de base aos nanodispositivos.
A equipa pretende que estes nanodispositivos sejam desenvolvidos sem recurso a materiais raros e que possam ser aplicados sobre diferentes superfícies, como se de uma tinta se tratasse. Esta versatilidade permitiria que cobrissem os mais variados tipos de elementos, inclusive transportes e edifícios, para lhes fornecerem eletricidade e poderem fazê-lo de forma ajustada às necessidades climáticas de diferentes regiões.
Além de procurar na natureza uma mecânica mais eficiente de absorção e transporte de energia solar para criação de energia elétrica, o projeto Adaptation coloca ainda como objetivo o desenvolvimento de um processo de arrefecimento dos nanodispositivos que não consuma a energia produzida. Também neste caso se pretendem reproduzir processos naturais de arrefecimento.
Projeto Adaptation conta com 3,6 milhões de euros do Programa Pathfinder
O desafio é ambicioso, mas a investigação e desenvolvimento (I&D) desta solução baseada na natureza conseguiu já garantir, em novembro de 2023, 3,6 milhões de euros de financiamento do Pathfinder, o Programa do Conselho Europeu da Inovação direcionado a financiar a inovação no seio da União Europeia e especificamente vocacionado para projetos multidisciplinares e ambiciosos, que apostem na exploração de novas ideias e tecnologias disruptivas.
O arranque dos trabalhos deste projeto está previsto para o primeiro semestre de 2024 e deverá prolongar-se pelos quatro anos seguintes.
Refira-se que o projeto Adaptation resulta de um consórcio com a participação de instituições académicas e empresas de cinco países europeus. Além da Universidade do Minho, que coordena, o consórcio inclui o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), a Universidade de Vigo, o Instituto de Ciências de Materiais de Madrid (ICMM-CSIC), a Universidade de Estrasburgo (França), a Universidade de Utrecht (Países Baixos), duas empresas espanholas e uma empresa austríaca.
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.