Os compradores de café timorense querem mais quantidades “mas não há”, afirmou o vice-presidente da Associação de Café de Timor-Leste, Afonso de Oliveira, em entrevista à Lusa, lamentando a falta de investimento do Governo no setor.
“Os compradores estão a pedir mais quantidade e não temos. Todos (os responsáveis) saem e oferecem (lá fora) café de Timor-Leste, mas depois dentro não incentivam. Já perdemos muitos anos”, lamentou Afonso Oliveira.
Anualmente são exportadas entre seis e nove mil toneladas de café, o que representa um “rendimento anual para os cofres do Estado de entre 25 e 30 milhões de dólares” (entre 23,4 e 28 milhões deeuros), segundo dados da Associação de Café de Timor-Leste (ACT), disse o seu vice-presidente.
Estados Unidos da América, Austrália, Nova Zelândia, Alemanha, Singapura e Coreia do Sul são os países para onde há mais exportações do café de Timor, revelou.
“Muito pouco para Portugal”, disse Afonso Oliveira, considerando que a distância é um obstáculo, mas que as portas estão a “ser abertas”.
Sobre as razões pelas quais Timor-Leste não aumenta a produção de café, Afonso Oliveira justificou com a falta de aposta no setor tanto por parte do Governo, como por parte dos produtores.
“O café foi introduzido em 1816 e desde que os portugueses deixaram Timor-Leste nunca mais se tomou conta das plantações do café. Em 1984, o engenheiro Mário Carrascalão, na altura governador, conseguiu devolver o café à origem, mas depois do referendo e da independência não conseguimos fazer algo de concreto pelo café”, lamentou o também empresário do setor.
Por outro lado, explicou, para aumentar a produção é preciso não só podar as plantas existentes, mas também aumentar as áreas plantadas.
“Mas, isto já é falado desde 2002”, disse Afonso Oliveira, salientando que as autoridades timorenses não souberam até hoje aproveitar as oportunidades.
“Estamos em 2024 e continuamos a falar em reabilitação. O café é o primeiro produto agrícola exportado, a seguir ao petróleo e ao gás”, afirmou.
Para Afonso Oliveira, se “ninguém se preocupar, daqui a 10 anos o café de Timor é só para consumo interno”.
Em relação aos rendimentos dos produtores de café não serem os expectáveis, uma queixa dos agricultores, o vice-presidente da ACT explicou que “quem define o preço é o mercado internacional”, mas principalmente o Brasil e o Vietname, que são os maiores produtores mundiais de café.
“Por isso apostamos no café orgânico e de qualidade. Esta é a nossa maior aposta”, salientou.
Para Afonso Oliveira, Timor-Leste tem de aumentar a produção e a qualidade para “melhorar a vida dos agricultores”.
“Agora produzimos 200 quilos por hectare e em outros países o mínimo é 500 quilos. É possível chegar até 1.000 quilos, mas com fertilizantes orgânicos e se juntarmos outras culturas, principalmente especiarias e frutas, podemos aumentar os rendimentos”, disse o vice-presidente da ACT.
A produção de 200 quilogramas, em cereja (café não processado) é vendida a 40 ou 50 cêntimos de dólar o quilograma, mas se o café for bem processado o exportador paga mais.
Segundo a ACT, que já conseguiu reabilitar 7.400 hectares de plantações de café, entre 25% e 30% da população timorense depende economicamente do café.
A ACT também tem formado pessoas não só na forma como se faz a colheita de café, mas em técnicas de processamento.