Os produtores de castanha da serra da Padrela, em Valpaços, mostraram-se hoje muito preocupados com as consecutivas quebras de produção verificadas nos últimos anos nesta zona, onde o fruto é a principal fonte de rendimento.
António Almeida, 76 anos, plantou os seus castanheiros há cerca de 40 anos e disse que não se lembra de “uma miséria” como este ano na zona da serra da Padrela, no concelho de Valpaços, distrito de Vila Real.
Nos soutos, as folhas dos castanheiros estão castanhas e amareladas e caíram antecipadamente, tal como os ouriços. Os especialistas apontam como uma das causas para este problema um fungo, a septoriose, e, como consequência, a quebra de produção pode atingir os 70 a 80% nesta campanha.
“A miséria é que aqui é do que vivemos, não temos outra agricultura. Não há vinho, não há azeite, não há amêndoas, vive-se da castanha”, afirmou António Almeida que, este ano, contava colher entre cinco a sete toneladas de castanha nos seus cerca de 800 castanheiros, uma produção que, no entanto, vai ficar muito aquém das expectativas.
O agricultor da aldeia de Serapicos mostrou-se muito preocupado: “Estamos todos os agricultores, trabalhamos o ano inteiro e chegamos ao fim do ano de mãos vazias. Temos que ficar preocupados, não é”, apontou.
O investigador da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e dirigente da Associação Portuguesa da Castanha (RefCast), José Gomes Laranjo, apontou para um conjunto de fatores que estão na base deste “flagelo”.
“Há aqui, em primeiro lugar, um acidente climático, a conjugação de uma precipitação bastante forte que ocorreu a partir de meados de setembro, com calor, o que originou o desenvolvimento deste fungo que é a septoriose do castanheiro”, afirmou, salientando, no entanto, que esta doença pode ser tratada preventivamente com produtos à base de cobre.
António Almeida não fez o tratamento e disse estar arrependido, tal como outros produtores, que lamentaram também a “falta de avisos atempados”.
Jacinto Friande, de 69 anos e de Serapicos, tirou algumas castanhas dentro dos ouriços para exemplificar.
“As castanhas estão bastante bichosas, são muito pequenas e não dão rendimento nenhum ao agricultor. Está tudo a cair ao chão”, explicou o agricultor.
Numa zona onde a castanha é a principal fonte de rendimento das famílias, há quatro anos que a colheita é, segundo este produtor, “muito pequena”.
“Já no ano passado foi fraco o ano”, lamentou.
Também António Maia, com 75 anos e que vive em Vilarinho do Monte, disse que há 20 anos colhia “20 mil quilos de castanha”.
“Agora tenho o dobro dos castanheiros e no ano passado colhi quatro mil e, este ano, se calhar nem mil colho. Aí é que é o problema”, salientou, descrevendo os castanheiros como se estivessem “todos queimados”.
Segundo apontou, a produção “diminui cada vez mais”.
Dinis Pereira dedica-se à produção e comercialização de castanha e desabafou que se perspetiva “um ano muito complicado em todos os aspetos”, porque é uma região onde “90% da economia vive da castanha”.
“O fungo está instalado, está no solo. Se não for feito nada, ano após ano, vai continuar a ser o mesmo. Vai-se repetir”, lamentou o empresário.
Dinis Pereira realizou os tratamentos preventivos e, por isso, disse ter “uma produção perfeitamente normal”. No entanto defendeu um sistema de avisos eficaz e técnicos no terreno a falar diretamente com os agricultores, muitos deles sem literacia informática, e a explicar o que tem de ser feito.
O responsável mostrou-se receoso com esta campanha e salientou que o impacto desta quebra de produção é muito grande na comercialização, referindo não saber se vai haver produto suficiente para as encomendas.
Para avaliar o impacto no terreno, realizou-se hoje uma visita a soutos da zona da Padrela que juntou autarcas, técnicos, representantes das associações do setor e produtores.
No final, o presidente da Câmara de Valpaços, Amílcar Almeida, alertou para um problema social resultante da quebra de produção numa zona onde as famílias têm como principal fonte de rendimento a castanha e pediu ao Governo ajuda técnica e linhas de apoio para os agricultores.
O autarca quer saber exatamente o que está a originar “quedas a pique” na produção de castanha neste concelho.