O lince-ibérico estava quase extinto no final da década de 1990 (havia menos de uma centena de indivíduos restantes), mas agora existem cerca de 1100 na Península Ibérica, 200 deles à solta em Portugal. Esta terça-feira foram devolvidos mais dois linces à natureza, que têm conseguido alargar a sua zona de distribuição.
Foi a correr que dois linces-ibéricos deixaram as jaulas para trás e se encontraram com a liberdade. Num descampado perto de Alcoutim, no Algarve, os linces chegaram numa jaula, tapados com um pano verde – com uma abertura suficiente para que fossem espreitando as centenas de pessoas que os observavam e fotografavam nesta terça-feira. O primeiro lince, o macho Salao, teve uns segundos de hesitação quando o ministro Duarte Cordeiro lhe abriu a porta da jaula. Não tardou muito até que, com a elegância dos felinos, corresse uns metros para a frente. Quando pára, já está longe. Ainda fica a olhar uns segundos para o horizonte da sua nova casa, enquanto abana o rabo curto, como que a acostumar-se. E segue caminho, até desaparecer por entre os arbustos.
Enquanto o lince dava as primeiras passadas em liberdade, a fêmea Sidra, de pintas no pêlo mais pequeninas, esperava ainda numa jaula na carrinha do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Desconfiada, dava voltas dentro da jaula enquanto era transportada para o meio do descampado, por baixo de um céu a ameaçar chuva. Assim que a porta se abriu, não houve qualquer momento de espera: a sua fuga foi bem mais rápida do que a de Salao e, enquanto corria, a poeira levantava-se sob as suas patas. Foram precisos menos de 15 segundos até que desaparecesse no meio da vegetação. Quem sabe para perto de Salao, com quem não tem qualquer grau parentesco.
Estes dois linces pertencem a uma espécie ameaçada. Em 1990, já poucos linces-ibéricos restavam. Foi por isso que há uns anos se decidiu fazer a reintrodução da espécie na natureza e, desde aí, já se contam cerca de 200 linces à solta em território nacional. Este casal de linces é o segundo a ser libertado no Algarve. Antes, só o faziam no Alentejo. “Queremos acreditar que todo o trabalho que foi feito vai permitir dizer que o lince foi salvo da extinção”, comenta o presidente do ICNF, Nuno Banza. Mas é um processo “instável”. É preciso que os habitats estejam em boas condições, que haja alimento (sobretudo coelho bravo, a presa preferida dos linces), que haja água, que não sejam caçados ou atropelados. E, acima de tudo, “precisamos de tempo”, diz.
O regresso dos […]