O ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, garantiu hoje que Portugal está empenhado na criação da Aliança Global contra Fome e Pobreza, proposta pelo Brasil no G20, e que pode apoiar os países africanos de língua portuguesa.
O objetivo é “erradicarmos a fome e a pobreza”, sublinhou Paulo Rangel, em declarações à imprensa, à margem da inauguração da exposição “A língua que se escreve sobre o mar – Camões 500 anos”, na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
O chefe da diplomacia portuguesa, que chegou hoje ao Rio de Janeiro para participar na reunião do G20 (formado pelas 19 maiores economias do mundo mais a União Africana e União Europeia) que discute uma aliança global contra a fome, disse que Portugal tem uma “cooperação em África, muito forte, não apenas com os países de expressão portuguesa, mas especialmente com esses”.
Portugal pode, através desta aliança, “levar alguns projetos, para aquelas zonas mais esquecidas, mais afetadas por conflitos, mais afetadas pelas alterações climáticas, no sentido de evitar que tantos cidadãos deste planeta estejam na situação de fome”, frisou o ministro.
Paulo Rangel detalhou que Portugal, juntamente com o México, tem estado a preparar um documento informal, focado na pobreza infantil e juvenil, “para combater esse fenómeno da pobreza e da fome que se herda”.
“Vamos ter uma contribuição para o secretariado desta aliança global, o que significa que vamos estar profundamente envolvidos no trabalho” do que vai ser a Aliança Global Contra a Fome e Pobreza, que “terá um conjunto de objetivos e de políticas definidas a nível global e suscetíveis de serem executadas a nível de cada Estado”, afirmou.
O chefe da diplomacia portuguesa disse acreditar que no G20 este tema do combate à fome e pobreza é um tema “consensual e vai haver, de facto, uma boa resposta a este desafio do Brasil”, que detém atualmente a presidência do grupo.
“Vai conseguir pôr na ordem do dia, na ordem global, a ideia de que nós temos que acelerar todas as medidas necessárias para combater a fome e a pobreza”, apostou, agradecendo ainda o convite brasileiro a Portugal e a Angola para participarem como membros observadores, projetando “imenso a CPLP”.
Mais de 700 milhões de pessoas enfrentaram a fome em 2023, um em cada 11 habitantes no mundo e um em cada cinco em África, de acordo com um relatório da ONU hoje divulgado, na abertura da reunião do G20.
“Estima-se que entre 713 e 757 milhões de pessoas, o que corresponde a 8,9% e 9,4% da população global, respetivamente, teriam enfrentado a fome em 2023. Considerando a faixa intermédia (733 milhões), seriam cerca de 152 milhões de pessoas a mais do que em 2019”, segundo o relatório sobre o “Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo (SOFI, em inglês) 2024”, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
O Presidente brasileiro, Lula da Silva, apresentou hoje no Rio de Janeiro a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza junto dos representantes das 20 maiores economias do mundo, para erradicar de uma vez por todas este flagelo.
A Aliança foi lançada numa reunião que contou com a presença de ministros de vários países, entre os quais o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Paulo Rangel, e passará a estar aberta a adesões, com a expectativa de que seja definitivamente lançada em novembro, durante a Cimeira de Líderes do G20, também no Rio de Janeiro.
Aberta a todos os países, esta iniciativa procura coordenar ações e parcerias técnicas e financeiras para apoiar a implementação de programas nacionais nos países que aderirem à proposta e ainda o financiamento de políticas públicas para a erradicação da fome e da pobreza no mundo.
As bases da aliança foram aprovadas por consenso por mais de 50 delegações, incluindo os membros do G20, o fórum que reúne as maiores economias do mundo, além da União Europeia e da União Africana, países convidados e organizações internacionais.
Entre os documentos consensuais estão os “Termos de Referência e Estrutura de Governança da Aliança”, os critérios para a composição da das políticas públicas que serão apoiadas pela Aliança e o modelo das declarações de compromisso que todos os membros da iniciativa terão que assinar.