A pecuária industrial “está literalmente a destruir o o mundo rural e o planeta”, acusaram segunda-feira várias organizações ecologistas, que pretendem uma transição para um modelo produtivo “mais sustentável”.
O responsável pela campanha da Greenpeace na agricultura em Espanha, Luís Ferreirim, garantiu à Efe que está “frontalmente contra o modelo de pecuária industrial e, em particular, com as macro-quintas”, pela sua relação com a contaminação por nitratos entre outros problemas.
“É evidente que temos um problema e já é hora de o assumir com responsabilidade, não s+o por parte do ministro Garzon, que está a dar a cara, mas também por outros dirigentes políticos, incluindo a própria indústria”, disse.
Ferreirim recordou que, em 02 de dezembro de 2021, a Comissão Europeia anunciou que “ia levar Espanha ao Tribunal de Justiça da União Europeia, precisamente por não cumprir a Diretiva dos nitratos”.
De forma mais detalhada, apontou: “As nossas águas estão gravemente contaminadas pelos nitratos e isto é uma das consequências da pecuária industrial, deste modelo que adotámos e de este crescimento exponencial da produção de carne e outros derivados de origem animal”.
Além disso, “há cada vez mais localidades em Espanha que estão a ficar sem água, precisamente por causa desta contaminação”.
A Comissão Europeia “já disse, em um relatório de acompanhamento da Diretiva dos nitratos, que Espanha tem um problema sistémico derivado do seu modelo de exploração agroalimentar, que está a provocar estas consequências no ambiente”.
Em contraposição, Ferreirim apontou a Holanda, que “acaba de anunciar que vai criar um Ministério específico para reduzir as emissões provenientes da pecuária industrial
A Greenpeace já solicitou que se declare “uma moratória para a pecuária industrial, que não se autorize nenhuma exploração, nem se ampliem as existentes nem as que estão em construção”.
Por outro lado, pretende também, à semelhança da Holanda, “a redução da exploração intensiva é a única medida que vai permitir minorar e reverter a situação de contaminação da água pelos nitratos e respeitar o compromisso de redução das emissões de metano”.
Em Espanha, a pecuária em geral, mas sem particular a industrial, “é a maior responsável das emissões de metano e, se as queremos reduzir, temos que resolver o problema”, disse Ferreirim.
O coordenador da campanha #StopGanaderíaIndustrial, da organização Ecologistas em Acción (EA), Daniel González, disse à Efe que a pecuária industrial tem muitas consequências negativas na perspetiva social, ambiental, económico ou saúde pública, entre outros, quando comparada com ouros modelos produtivos, como a pecuária extensiva, em especial a agroecológica.
Este último modelo, insistiu, tem consequências benéficas para o ambiente, as zonas rurais, a luta contra o despovoamento e apara a economia local.
A pecuária industrial, segundo González, provoca muitos resíduos do gado, que, dado o seu volume elevado e estado líquido, com uma quantidade muito elevada de nitratos, que são despejados em terras de cultivo e acabam no subsolo a contaminar os aquíferos.
A chave, assinala, passa por uma transição para um modelo produtivo mais sustentável de pecuária extensiva e agroecológica.
O responsável pela Soberania Alimentar, dos Amigos da Terra, Andrés Muñoz, apontou que o Estado espanhol é agora “uma das principais estrumeiras da Europa”, uma vez que “é o primeiro produtor de porco na UE”.
As grandes explorações pecuárias, declarou, “nem fixam população nem criam emprego”.
Acabam a instalar-se em localidades e regiões cada vez mais deterioradas e, de facto, cada vez as deterioram ainda mais, não fixando nem população nem emprego, acabando por deixar “um trilho de desastres à sua passagem”.
O mundo rural “não precisa da pecuária industrial nem necessita estar a produzir mercadorias; o que necessita é de estar vivo e isso consegue-o produzindo alimentos sãos, nutritivos e que fixem população como o faz a pecuária extensiva”, concluiu Andrés Muñoz.