A fome está a aumentar e a alastrar na África Ocidental, afetando cerca de 48 milhões de pessoas – maior número dos últimos 10 anos -, que enfrentam a insegurança alimentar na região assolada por conflitos, advertiu hoje a ONU.
Impulsionada principalmente pela violência, bem como pelas consequências económicas da pandemia de covid-19 e da inflação, a insegurança alimentar está a ter um forte impacto no Burkina Faso, Mali, Níger, norte da Nigéria e na Mauritânia, alertaram hoje em Dacar, em conferência de imprensa, fontes da ONU.
As mesmas fontes disseram que, pela primeira vez, cerca de 45.000 pessoas na região do Sahel estão à beira da insuficiência alimentar, a um passo de distância da fome.
A grande maioria, 42.000, encontra-se no Burkina Faso, acrescentaram.
“A situação é preocupante”, disse Ann Defraye, uma especialista regional em nutrição do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) na África Ocidental e Central.
“No ano passado, assistimos a um grande aumento (31%) do número de crianças admitidas em estabelecimentos de saúde com graves desperdícios em todo o Sahel. Em muitas áreas, está a tornar-se muito mais difícil para as famílias encontrarem alimentos nutritivos para comer, especialmente onde existem comunidades bloqueadas”, acrescentou.
A violência ligada à Al-Qaida e ao grupo extremista Estado Islâmico assola há anos o Burkina Faso e o Mali.
Os fundamentalistas islâmicos bloquearam dezenas de aldeias na região, cortaram o acesso às zonas agrícolas e armadilharam estradas com explosivos, dificultando a livre circulação dos residentes e forçando as agências de ajuda a prestar assistência humanitária somente por via aérea, o que torna as operações muito mais dispendiosas.
À medida que os civis fogem dos ataques e os fundamentalistas islâmicos expandem as suas ações no Burkina Faso, a fome também se espalha através da fronteira para os vizinhos Togo e Benim.
Estima-se que cerca de 1 milhão de pessoas esteja em insegurança alimentar no Benim e no Togo, quase o dobro do número em 2021, de acordo com a ONU.
Pela primeira vez, aqueles dois países pediram ajuda a organizações humanitárias para lidarem com o afluxo de pessoas deslocadas e refugiados.
“Estamos realmente preocupados com os países costeiros. Se não se fizer o suficiente no Burkina (Faso), o risco de um número crescente de pessoas ter de atravessar a fronteira para encontrar refúgio seguro ou oportunidades de subsistência porque não podem utilizar as suas terras ou porque o seu gado foi atacado aumentará”, frisou Alexandre Le Cuziat, um conselheiro sénior de emergência do Programa Alimentar Mundial na África Ocidental e Central.
“Ainda há uma janela de prevenção nos países costeiros, mas está a fechar-se rapidamente. Vimo-la fechar-se rapidamente no Sahel”, disse Le Cuziat, que defendeu que as organizações humanitárias, governos regionais e países doadores precisam de tirar lições da crise de insegurança noutros países e tentar mitigar as consequências nos Estados costeiros.