Nem só do olival vive o grupo Sovena. Terminada a aliança com os espanhóis, o grupo liderado por Jorge de Melo vira-se para a amêndoa, em Portugal, e para o abacate, na Colômbia. Retrato de um gigante do agroalimentar que cresceu à sombra do Alqueva
Em pouco mais de uma década, a Sovena tornou-se dona de um dos maiores olivais do mundo em conjunto com um sócio, a sociedade financeira espanhola Atitlan. A Elaia, a empresa resultante dessa associação, adquiriu, reconverteu e plantou 15 mil hectares de olival em três geografias: Portugal, Espanha e Marrocos. Depois de alcançados os objetivos da parceria, chegou o tempo de separar os negócios. No final de dezembro de 2020, já depois da última campanha da azeitona, fez-se uma divisão de ativos entre portugueses e espanhóis.
“Tínhamos diferentes perspetivas do negócio: a nossa mais industrial, a deles mais financeira. Por acordo amigável entre os sócios, separámos parte dos ativos, nomeadamente o olival, mas ainda partilhamos algumas estruturas”, diz à VISÃO o CEO da Sovena, Jorge de Melo. No lugar da Elaia, nasceu, deste lado da fronteira, a Nutrifarms, para gerir 6 800 hectares de olival atribuídos à Sovena – 5 800 hectares em Portugal (no Alto e no Baixo Alentejo) e 1 000 em Marrocos. À Atitlan couberam 6 900 hectares na Península Ibérica, dos quais 3 900 em Portugal.
Repor a dimensão no olival é apenas uma das alíneas da nova estratégia que a Sovena, proprietária das marcas Oliveira da Serra (azeite) e Fula (óleo), começou a executar em 2021. “Temos olhado para algumas oportunidades de acrescentar hectares à área de olival, mas o preço da terra subiu bastante”, explica o gestor. Ao mesmo tempo, o grupo está a preparar a entrada em novas culturas. “Depois do verão, vamos plantar um pequeno amendoal numa área de 240 hectares no Alentejo”, acrescenta. A intenção é a de procurar sinergias na partilha de recursos como os lagares, as máquinas e as pessoas. Ao abrigo do acordo de divisão de ativos, os lagares do Marmelo, em Ferreira do Alentejo, e o de Avis, continuam a receber as produções dos dois sócios. Já o lagar de Marrocos ficou com a Sovena.
Quinze anos decorridos sobre o fecho da barragem do Alqueva, que está a transformar a paisagem amarela do Alentejo num imenso olival pintado em tons de verde, esta e outras culturas de regadio, como a amêndoa e as árvores de fruto, encontram as condições ideais para se desenvolver. “Não existem muitas regiões no mundo com estas características favoráveis ao olival: calor no verão, algum frio no inverno, chuva em determinados períodos”, assinala Jorge de Melo. Daí resultou uma aposta de muitos investidores no Baixo Alentejo, principalmente portugueses e espanhóis, atraídos pela reconversão do olival tradicional.
Intensivo e superintensivo
“O olival só faz sentido na ótica da agricultura moderna, mecanizada, produtiva”, sustenta o CEO da Sovena. Se o Alentejo parece ser, para este e outros gigantes do agroalimentar, o local perfeito para fazer a exploração superintensiva do olival, a visão não será partilhada por ambientalistas, pequenos agricultores e populações locais, que receiam pela escassez e pela contaminação da água e pela erosão dos solos, num cenário de alterações climáticas.
Isabel Ribeiro, responsável de sustentabilidade da Nutrifarms, admite que “a paisagem mudou, em muito pouco tempo”. O impacto nos 120 mil hectares irrigados pelo Alqueva foi subestimado. “Infraestruturámos um território gigante, fizemos uma mudança brutal nas culturas e não preparámos as populações. Muitas pessoas assistiram a uma grande mudança no seu ‘quintal’ sem que dela beneficiassem, porque já não estão em idade ativa. Estão a ser espectadoras de uma revolução agrícola que não entendem”, diz ainda.
Essa “revolução agrícola”, ocorrida na última década e meia, mudou a face do olival, uma cultura que não é estranha ao Alentejo. Num hectare de terra, onde existiam 100 árvores, podem coabitar agora entre 500 (olival em copa) e 2 000 plantas (olival em sebe). Com produtividades e rentabilidades que saltaram dos 200 euros para os 2 000 euros por hectare, o investimento num olival moderno começa a produzir resultados ao fim de três anos, e pode ser recuperado na totalidade em dez anos. No montado de sobreiro, é preciso esperar pelo menos 25 anos pelo retorno do investimento (embora existam projetos-piloto que […]