Os índices industriais e as alterações climáticas trouxeram novas dinâmicas à hidropolítica chinesa, com níveis de poluição galopantes, mastodônticas barragens, deslocações forçadas de cidades inteiras, efeitos nefastos nos ecossistemas naturais, na saúde pública, na pressão hospitalar, na demografia, na paz social, agravadas por 25% na redução dos caudais, prevista para 2050
A colagem temporal entre os efeitos da pandemia e a guerra na Ucrânia trouxe para a linha da frente os perigos da insegurança alimentar. Sinais agravados nos dois últimos anos expuseram secas prolongadas, escassez de água, aumento do nível do mar, alterações de fronteiras, disrupções logísticas, alta de preços dos bens essenciais, migrações forçadas, pressão sobre recursos e serviços, revoltas sociais, golpes de Estado, conflitualidade agravada e a tendência global para o nacionalismo como bomba-relógio aos bons ofícios diplomáticos.
No centro de tudo isto está a água. Não falo de disputas nos grandes mares, por rotas comerciais ou exploração de petróleo e gás, mas da parcela que emana dos rios e das bacias hidrográficas, usada na agricultura e que causa de temor existencial para muitos povos em África, Médio Oriente e na Ásia Central ou do Sul. Cerca de 160 países dependem de bens alimentares importados, o que significa que há uma minoria que assegura a alimentação da maioria dos povos. Segundo relatórios da ONU, 40% da população mundial vive já em “escassez de água”, o que pode gerar migrações forçadas, até 2030, na ordem dos 700 milhões de pessoas. Prevê-se que a população mundial chegue aos 8 mil milhões em 2025, que a produção alimentar duplique, forçada pela procura, e que a água continue providencial; que, nos próximos 15 anos, as pessoas em zonas de escassez de água passem de mil milhões para 4 mil milhões e que 60% do total viva em grandes áreas urbanas, com uma pressão brutal sobre o fornecimento de água, como em Jacarta, Lagos ou Pequim.