Um “inferno”, foi a forma como uma moradora descreveu o aproximar das chamas da sua casa em Escariz, uma das aldeias afetadas pelo fogo que lavra no concelho de Vila Real e já queimou cerca de 3.000 hectares.
“Ao meio-dia estava ao pé de Vilarinho da Samardã e daí para cá tem descido sempre. O vento mudou de direção e trouxe o fogo todo para este lado. Aqui foi um inferno”, afirmou à agência Lusa Carla Carvalho, que reside no cimo da aldeia de Escariz.
Esta é uma das várias localidades do concelho de Vila Real que viu o fogo aproximar-se ao longo do dia de hoje. O incêndio deflagrou pelas 07:00 na serra do Alvão, na zona da Samardã.
“As faúlhas caíam aqui, molhámos o quintal, o meu primo foi buscar o trator com duas cisternas de água e andámos a molhar tudo, pelo menos para não chegar aqui nada à casa”, acrescentou Carla Carvalho.
Quando as chamas se aproximaram da sua casa já os bombeiros também estavam ali posicionados.
“Uma pessoa está uma vida inteira para construir uma casa e depois ver cair as faúlhas aqui dentro e o fogo a acender em todos os lados é uma aflição”, frisou, referindo que foi “muito rápido por causa do vento, que estava sempre a mudar de direção”.
Para além da sua casa, a preocupação de Carla Carvalho estava também centrada na casa da sua mãe, mais abaixo na aldeia.
“Ando a correr daqui para baixo e de baixo para cima e está tudo numa aflição”, afirmou.
Manuel Carvalho, também residente em Escariz, foi durante muitos anos bombeiro e, apesar de ter passado por muitos incêndios, disse que este o assustou.
“Este hoje meteu-me medo. Não sei se será por causa da idade, mas esse hoje meteu-me medo”, salientou Manuel Carvalho, de 70 anos.
É que, explicou, o fogo “não tinha direção, andava de roda” e não dava para perceber “onde ia parar”.
“Ninguém controlava uma coisa destas, era impossível”, frisou, salientando que se espera uma “longa noite de preocupações”
Disse ainda que se apercebeu do início do incêndio e contou que, na altura, achou que era fácil de dominar.
“Veio um helicóptero, deu ali dois baldes de água e foi-se embora e a partir daí aconteceu o que se vê aqui. Isto era evitável se houvesse meios de intervenção aérea porque ali é de difícil acesso”, considerou.
Em declarações à Lusa, pelas 22:00, o presidente da Câmara de Vila Real, Rui Santos, disse que o incêndio já queimou uma área de cerca de 3.000 hectares.
“O perímetro deste incêndio deve andar à volta dos 14, 15 quilómetros, neste momento, ativos”, apontou.
O autarca disse ainda que se esperam reforços ao longo da noite para o combate a este fogo.
“Mas a situação está difícil. No meio disto tudo a única boa notícia é que, para já, não há danos físicos nem em casas de primeira habitação”, referiu.
O fogo mantém três frentes. “Temos neste momento São Cosmo, Leirós, Linhares, Paredes e Escariz numa situação mais difícil, temos uma frente a caminho do concelho de Vila Pouca de Aguiar e outra a caminho de Sabrosa e outra na zona de Escariz”, referiu.
Rui Santos disse estar “preocupado” e referiu que a câmara municipal está a disponibilizar todos os meios ao seu dispor.
Segundo o ‘site’ da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção (ANEPC), para o local estavam mobilizados, pelas 22:30, 447 operacionais e 129 viaturas.