O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, apelou hoje para a criação de um “amplo consenso político” quanto à questão dos incêndios, bem como uma mudança de mentalidades, frisando também o papel da comunicação social na questão.
“Implica um amplo consenso político e social porque, no nosso entender, esta matéria tem muito que ver com a cultura e com as mentalidades”, disse hoje José Luís Carneiro num discurso de abertura do segundo dia da oitava Conferência Internacional de Incêndios Florestais, que decorre no Porto.
Para o ministro, “a cultura e as mentalidades são mesmo o que há de mais essencial nas nossas atitudes e nos nossos comportamentos, e é por isso que essa é mesmo a grande transformação que precisamos de fazer”.
“Somente o ordenamento do território, a organização da propriedade, o uso económico, social e ambiental da floresta, a par com a alteração da estrutura da paisagem, e o uso sustentável da biodiversidade, permitirá dar perspetivas de futuro sustentável”, disse o ministro.
Segundo José Luís Carneiro, atingir tais objetivos impõe “um amplo consenso político e um amplo consenso social”, ponto a que regressou mais tarde no seu discurso, que durou mais de 20 minutos.
“A mudança que se exige e que tem vindo a ser prosseguida através, nomeadamente, da materialização, entre outros instrumentos, do Sistema de Gestão Integrada de Fogos Rurais, é uma mudança sistémica que assume um compromisso de longo prazo de toda a comunidade nacional, com novas abordagens, com a adequação de comportamentos e atitudes e com melhor gestão do risco”, considerou.
O ministro reiterou que tal “exige um amplo pacto político entre as forças políticas e sociais”, mas acrescentou que “não dispensa um compromisso da comunicação social para um uso da informação e da comunicação que seja também indutor de atitudes e de comportamentos”.
“E por isso o apelo que aqui deixo, também, à comunicação social”, referiu.
Em declarações a jornalistas, José Luís Carneiro concretizou, referindo que “está provado que projetar as imagens de forma consecutiva, duradoura, maciça” dos incêndios florestais “tem efeitos no nível do incendiarismo”.
“Era importante que pudesse haver um uso dessas imagens com sentido de responsabilidade”, afirmou, apesar de a comunicação social ter “o dever de informar e de garantir sempre informação rigorosa, isenta e imparcial, e isso tem de ser sempre salvaguardado”.
José Luís Carneiro apelou para o diálogo entre a comunicação social, a Agência de Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF) e a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC), mas salvaguardou que o Governo não pode “ser acusado de que está a tentar limitar a liberdade de informação”.
“O Governo tem de ter muito cuidado, muita sensatez, muito equilíbrio na pronúncia pública sobre esta matéria”, reconheceu, mas defendeu o direito de “chamar a atenção sobre aquilo que dizem os técnicos e os cientistas” sobre a divulgação de imagens de incêndios.