O Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) vai diligenciar para a “vedação do sobreiro monumental classificado” junto à Quinta do Relógio, em Sintra, mutilado por turistas, para evitar “atos de vandalismo” a que está sujeito.
Numa nota de resposta à Lusa, o ICNF informou que “diligenciará junto do proprietário” da Quinta do Relógio “para que sejam acauteladas medidas de forma a obviar o impacto das obras em curso no arvoredo presente, bem como na vedação do sobreiro monumental classificado (‘Quercus suber L.’) – localizado no exterior da propriedade, junto da via pública – de forma a evitar os atos de vandalismo a que está constantemente sujeito”.
Segundo uma carta enviada pelo Grupo dos Amigos das Árvores de Sintra (GAAS), aos presidentes da Câmara de Sintra e do ICNF, junto à Quinta do Relógio, na estrada para Seteais, “é frequente ver-se turistas serem incentivados por guias turísticos a arrancarem pedaços da casca da árvore para os levarem como ‘souvenirs’”.
Na missiva, o grupo ambientalista salientou que “o sobreiro monumental existente junto à Quinta do Relógio” se encontra “classificado de Interesse Público desde 1996”.
“A conhecida ‘sobreira dos fetos’ é uma árvore fantástica, que tem uma idade estimada de mais de 300 anos e é uma das árvores mais célebres da Sintra histórica”, lê-se na carta, com a referência a “vários relatos nos últimos anos sobre agressões”.
Um aviso da Direção-Geral de Florestas, publicado em Diário da República em 1996, atribuiu Interesse Público a um conjunto de árvores, entre as quais “um ‘Quercus suber L.’, vulgarmente conhecido por sobreiro, existente junto à Quinta do Relógio, freguesia de São Martinho”.
Sendo a “sobreira dos fetos” propriedade particular, o GAAS apelou à câmara e ao ICNF para “intercederem junto do proprietário e recorrerem a especialistas para, com caráter de urgência, se tomarem medidas efetivas de reforço da integridade da árvore, uma vez que o gradeamento existente não é de todo eficaz, colocando em sério risco” a sua sobrevivência, “se as mutilações continuarem”.
O GAAS enviou ainda ao município e ao ICNF uma carta a pedir que intercedam com urgência junto do proprietário da Quinta do Relógio “no sentido de se recorrer a especialistas e intervirem nas duas araucárias monumentais” que se encontram junto ao portão da propriedade.
Em causa está a deposição de materiais e equipamentos da obra que decorre na quinta junto às árvores.
Embora as obras tenham terminado com o estacionamento de automóveis em cima das raízes das araucárias, o GAAS considerou “premente que se desafogue a área junto às árvores” e “se reduza a compactação do solo, mantendo a humidade, e também se analise os solos em profundidade”, procedendo-se à sua fertilização.
Em relação às obras, o ICNF referiu que a quinta, no Plano de Ordenamento do Parque Natural de Sintra-Cascais, está inserida em “Áreas não abrangidas por regime de proteção”, sendo que “nestas áreas não é aplicado qualquer nível de proteção, não havendo assim lugar a parecer do ICNF” e “a araucária não é uma espécie protegida, não estando abrangida por qualquer regime de proteção legal”.
Ainda assim, assegurou que irá diligenciar “para que sejam acauteladas medidas de forma a obviar o impacto das obras em curso no arvoredo presente”.
A busca por ‘souvenirs’ em árvores da serra de Sintra não é caso único na Quinta do Relógio, pois na Estrada Nacional 247, entre o Pé da Serra e a Azoia, antes do desvio para a estrada da Ulgueira, existe outro sobreiro vítima de cortes sucessivos para os turistas.
“Antes da Ulgueira, do lado direito, está ali um sobreiro muito bonito e antigo, mas, coitado, está à beira da estrada e os promotores turísticos vão ali tirar um bocadinho, para mostrar a um chinês ou inglês, ou seja quem for”, contou à Lusa o presidente da Junta de Freguesia de Colares, Pedro Filipe (PSD).
O autarca explicou que já foram colocadas algumas placas a alertar para que a prática não se repita, mas os avisos são retirados e a árvore apresenta um aspeto desolador, tal o grau de mutilação, apesar de o sobreiro ser uma espécie protegida pela lei portuguesa.