A Zonagem Edafoclimática realizada pelo RAIZ para a The Navigator Company permite adaptar as melhores práticas a cada povoamento.
Porque razão crescem as plantas mais numa zona do que noutra, dentro do mesmo terreno?” Esta foi uma das primeiras perguntas que levou ao surgimento da metodologia de Zonagem que o RAIZ – Instituto de Investigação da Floresta e Papel, desenvolveu e melhorou nos últimos 20 anos em Portugal. Cláudio Teixeira, coordenador dos Serviços de Apoio Técnico Florestal deste centro de I&D financiado maioritariamente pela The Navigator Company, explica que a especificidade da resposta que agora podem dar, e que permite estimar o potencial de produtividade do eucalipto em qualquer propriedade, é uma ferramenta única no mundo. Para a Companhia, é a base do projeto florestal, que respeita todas as restrições (ambientais ou outras) definidas no território.
A Zonagem faz a avaliação da aptidão florestal – correlaciona os potenciais de solo e de clima, e o risco de ocorrência de pragas – e serve de apoio à tomada de decisão de investimento na gestão florestal das áreas próprias ou atualmente arrendadas pela The Navigator Company, sendo uma atividade diária e constante ao longo do ano. As equipas do RAIZ, em cada avaliação, realizam em gabinete um primeiro enquadramento macro das características de clima e solo e de eventuais condicionantes existentes na área alvo de estudo. Seguidamente, a equipa parte para o terreno, com equipamentos como uma enxada, uma picareta, um martelo de prospeção, um tablet e alguns formulários de suporte à avaliação. No terreno são avaliadas características como a topografia, a altitude, o tipo de relevo e a exposição, fatores que podem agravar ou melhorar as condições climáticas médias da região. Ainda no local e mediante a heterogeneidade da paisagem e dos diferentes usos do solo, a área é estratificada para se proceder à abertura e análise de perfis de solo. Esta análise inclui vários parâmetros: profundidade, pedregosidade, textura, estrutura, compactação e cor. Os formulários exigem ainda uma avaliação do risco de ocorrência de pragas florestais e de eventos localizados, como o encharcamento, a geada e o tombamento das plantas. Toda a informação recolhida é georreferenciada.
A Zonagem permite contribuir para o aumento da fertilidade do solo ao longo do tempo: promover um maior volume de solo explorável pelas raízes, uma melhor capacidade do solo para disponibilizar água para a planta, e diminuir a resistência do solo ao desenvolvimento radicular.
Vantagem competitiva
A Zonagem envolve a estratificação dos terrenos em unidades homogéneas mais pequenas, resultantes de combinações específicas de solos e climas, segundo parâmetros de aptidão para o eucalipto em Portugal. A classificação dos solos e do clima varia numa escala crescente de potencial produtivo que vai de 0 a 10. Este conhecimento permite escolher os modelos de silvicultura mais indicados para cada situação: a preparação de terreno mais adequada, que favoreça a conservação do solo e da água, a tipologia de adubação de instalação e de manutenção, e a seleção do material genético mais adaptado à plantação. Desta forma, a determinação dos potenciais produtivos, e os principais fatores que os condicionam, permite avaliar de forma sustentada o valor da estação, e conhecer os riscos que podem condicionar a viabilidade do investimento florestal.
“É este conhecimento que passamos à The Navigator Company para decidir com a melhor informação e reduzir o risco de insucesso, traduzindo-se numa vantagem competitiva, pois permite prever cenários, estimar produtividades e custos e planear a floresta futura com as melhores operações silvícolas. São prova disso os projetos de rearborização aprovados em cada ano, a boa gestão florestal aplicada no terreno, o aumento da produtividade e os bons resultados nas auditorias de gestão florestal”, acrescenta Cláudio Teixeira.
Atualmente o RAIZ tem cerca de 200 mil hectares avaliados em Portugal. Parte da área avaliada foi considerada improdutiva ou com fortes restrições à plantação ou gestão com eucalipto. “Podemos ter parcelas contíguas com potenciais de solo totalmente distintos, por exemplo uma parcela de potencial 2 ao lado de outra de potencial 10. Sendo isto, em parte, justificado pela intervenção do Homem, ou seja, qual foi o modo como geriu aquela parcela, paisagem ou território. Por vezes, já não há mesmo solo, só rocha, devido a más práticas anteriores. A Zonagem permite conhecer o solo e perceber como devemos atuar sobre ele, aplicando as melhores práticas silvícolas caso-a-caso, para favorecer um maior volume de solo explorável pelas raízes, uma melhor capacidade do solo para disponibilizar água para a planta, e diminuir a resistência do solo ao desenvolvimento radicular, ou seja, diminuir a sua compactação e favorecer o seu arejamento. Tudo isto vai favorecer e contribuir para o aumento da fertilidade do solo ao longo do tempo. Facto que temos vindo a confirmar nas áreas geridas pela Navigator. O solo está mais evoluído, mais fértil”, conclui Cláudio Teixeira.
O artigo foi publicado originalmente em Produtores Florestais.