O presidente da Federação Agrícola dos Açores (FAA) reivindicou hoje um aumento superior a cinco cêntimos no preço do litro de leite pago ao produtor, em toda a região, a partir de 01 de abril.
“A expectativa legítima que nós temos é que, a partir de 01 de abril, o leite suba em todas as ilhas para cima de cinco cêntimos porque é de elementar justiça. E ainda não estamos a acompanhar a situação da evolução dos mercados dos custos das matérias-primas, é para colmatar as situações de rutura que temos, em termos de rendimento, nos últimos tempos”, avançou o presidente da FAA, Jorge Rita, numa conferência de imprensa, em Angra do Heroísmo.
No dia em que foi reconduzido como presidente da federação agrícola por mais dois anos, Jorge Rita alertou para a necessidade de um reforço de apoios ao setor para mitigar o impacto da subida dos custos dos fatores de produção, provocada pela guerra na Ucrânia, mas apelou também ao aumento do preço do leite por parte da indústria, dando como exemplo o aumento de cinco cêntimos anunciado pela Lactogal, no continente português.
“Se durante muito tempo, a desculpa regional era que a Lactogal não aumentava o preço do leite, está identificado que a Lactogal neste momento passa para 40 cêntimos cada litro de leite e a Região Autónoma dos Açores está em 31”, salientou.
Segundo o presidente da FAA, os consumidores já estão “a pagar mais” pelo leite nos supermercados, mas as fábricas “ainda não aumentaram” o preço pago ao produtor e os Açores têm “o preço do leite mais mal pago de toda a Europa”.
“As subidas que têm existido são demasiado curtas e envergonham-nos a todos, porque o diferencial do preço do leite está cada vez mais acentuado”, frisou.
Jorge Rita considerou que a situação é “incomportável” e “inconcebível” e apelou à intervenção do executivo açoriano.
“Esperamos da parte do Governo que crie mecanismos de pressão, se for necessário, sobre as indústrias, por mais que não seja fazer as comparações com o se faz a nível nacional e a nível europeu”, apelou.
Pelas contas da federação agrícola, o preço dos cereais aumentou entre 60 a 100%, o preço dos fertilizantes subiu 300% e o preço dos transportes 300%, enquanto o preço do leite pago ao produtor aumentou 10%.
“Nós já temos mecanismos para nos defender com a redução paga. Se as indústrias seguirem esse caminho, estão matando a sua galinha dos ovos de ouro. Está na altura de eles serem proativos e a partir de 01 de abril aumentarem, no mínimo, todos sem exceção, porque têm condições para o fazer, 5,5 cêntimos cada litro de leite”, sublinhou.
Perante a crise provocada pela guerra na Ucrânia, o representante da lavoura açoriana reivindicou a agilização da legislação europeia que permita aos Estados-membros comprar milhos e cereais transgénicos na Argentina, no Brasil, no Canadá e nos Estados Unidos.
“Não está garantido que teremos cereais nos próximos tempos e os que existirão serão de preços brutais, incalculáveis, derivado à especulação e à grande pressão que irá existir dos países mais ricos”, alertou.
Jorge Rita defendeu ainda um reforço de verbas do programa comunitário POSEI (Programa de Opções Específicas para fazer face ao Afastamento e à Insularidade) e um reforço de apoios para a produção de milho na região, que permita reduzir a dependência exterior.
“Não podemos alimentar obviamente todos os animais na região com aquilo que nós produzimos, derivado à quantidade de animais que nós temos, mas essa situação também poderá ser atenuada”, apontou.
O presidente da Federação Agrícola dos Açores propôs também o alargamento ao setor da carne dos subsídios criados para redução da produção de leite, “para que haja menos pressão sobre os alimentos”, e a criação de um “limite” ao preço dos combustíveis.
Segundo Jorge Rita, as medidas anunciadas pelo Estado português para a lavoura são “quase uma mão cheia de nada”.
“A antecipação das ajudas é quase uma casualidade, normalmente acontece. Criar mais linhas de crédito? Os lavradores não se querem endividar mais”, frisou, alegando que os produtores agrícolas “vão precisar de disponibilidade financeira para poder fazer face à crise”.