As exportações de algodão renderam a Moçambique 3,7 milhões de dólares (3,4 milhões de euros) no primeiro trimestre, uma queda de 56% face ao mesmo período de 2023, indicam dados do banco central compilados hoje pela Lusa.
De acordo com um relatório do Banco de Moçambique as exportações de algodão recuaram o equivalente a 4,7 milhões de dólares (4,3 milhões de euros) em termos homólogos, tendo em conta os 8,4 milhões de dólares (7,9 milhões de euros) exportados nos primeiros três meses de 2023.“Devido à queda do preço da fibra de algodão no mercado internacional, em 1,4 %, num contexto em que o volume exportado incrementou em 36,2%”, aponta o documento.
De acordo com dados avançados anteriormente à Lusa pelo presidente da Associação Algodoeira de Moçambique (AAM), Francisco Ferreira dos Santos, o algodão em Moçambique representou uma média anual de 30 a 50 milhões de dólares em exportações nos últimos dez anos, sendo uma cultura tida como essencial: “Tem uma cadeia de valor enorme (…) é uma cultura quase que sagrada, com efeitos catalisador na economia e na demografia”.
O Governo moçambicano vai subsidiar a compra de algodão em cinco meticais (sete cêntimos) por quilograma na atual campanha, estabilizando preços e beneficiando 600 mil agricultores, além de incentivar uma “cultura de confiança”, anunciou em maio o ministro da tutela. “Esta estabilização de preço e este subsídio que estamos a aprovar vai tocar cerca de 100 mil famílias. Estamos a falar de um universo de 600 mil pessoas que vão ter o seu rendimento estabilizado”, disse em 22 de maio o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural de Moçambique, Celso Correia.
O anúncio foi feito em Maputo, durante uma reunião com representantes do Fórum Nacional dos Produtores do Algodão (FONPA) e da Associação Algodoeira de Moçambique (AAM), no âmbito da plataforma que nos últimos anos negoceia as propostas do preço mínimo do algodão caroço e a taxa de descaroçamento, com base no mecanismo de cálculo aprovado.
Para a campanha de 2023/24 foi fixado o preço mínimo de 30 meticais (43 cêntimos de euro) por quilograma na venda de algodão, incluindo o subsídio a atribuir pelo Governo, contra os 33 meticais (47 cêntimos) por quilograma e o subsídio de sete meticais (dez cêntimos) na campanha anterior.
A falta de chuva em algumas regiões do país devido ao fenómeno meteorológico ‘el niño’, o continuo abandono da produção na província de Cabo Delgado, uma das maiores produtoras do país, mas sobretudo o excesso da produção no mercado condicionam em baixa o preço e levam, pelo segundo ano consecutivo, a fixar um subsídio para manter o rendimento aos produtores.
“Há uma pressão global exercida pelos países onde há subsídios, que está a pôr o preço do algodão em baixa. Está-se a produzir muito algodão, os ‘stocks’ estão a subir”, explicou o ministro Celso Correia.
“Hoje, o setor algodoeiro já tem credibilidade para entrar no setor da produção dos biocombustíveis, para além da fibra (…) Este exercício de credibilização da fonte, e outros mais, obriga a que exploremos esta oportunidade, que só vai fazer bem ao país, que é verdadeiramente criar uma política de subsídio mais profunda para este setor”, afirmou ainda.
Moçambique representa menos de 0,5% da produção mundial de algodão, num mercado liderado por países como Estados Unidos, China ou Índia. Na campanha de 2021/22 foram comercializadas 19.415 toneladas de algodão caroço, com um subsídio estatal total de 105,5 milhões de meticais (1,5 milhão de euros), e na campanha seguinte 37.400 toneladas, com subsídios estatais de 261,6 milhões de meticais (3,8 milhões de euros).
O Grupo de Gestão do Mecanismo do Preço do Algodão Caroço em Moçambique resulta de uma iniciativa lançada pelos produtores, em conjunto com o Governo, em 2019, e foi operacionalizado nos anos seguintes.