A imensa operação lançada pela PJ na madrugada de quarta–feira no Alentejo, visando os cabecilhas das redes mafiosas de imigração, pode ser o princípio do fim do desmantelamento do nosso Catar escondido
Confesso que depois de várias vezes me ter indignado e escrito acerca da vergonha da nossa “moderna agricultura” intensiva, sustentada com mão-de-obra intensiva importada e explorada por máfias nacionais e estrangeiras e sofregamente aproveitada nas tais modernas explorações agrícolas, já não esperava que nada mudasse algum dia e que algum assomo de escrúpulos ou de pudor viesse perturbar o negócio. Das estufas de frutos vermelhos do litoral alentejano aos olivais e amendoais a perder de vista da região do Alqueva, há todo um mundo de donos de terrenos a servirem-se dessa mão-de-obra subcontratada, de proprietários de pardieiros a alugá-los como habitações aos desgraçados que atravessaram por vezes meio mundo para virem aqui ser explorados como novos escravos, submetidos a uma lei da kafala por máfias organizadas e actuando à luz do dia. Agora, que tanto falamos do Catar, é ainda mais extraordinário que tenhamos passado tantos anos a fingir que não víamos o Catar entre nós. Só porque a escala é diferente não erguemos um Mundial de futebol e não gastámos 220 mil milhões de euros sobre as vidas perdidas dos nossos imigrantes. […]