Foram as gravuras que puseram Vila Nova de Foz Côa no mapa e é fácil esquecer que também faz parte do Alto Douro Vinhateiro. Uma encruzilhada de duas classificações da UNESCO, onde o turismo tarda a impor-se.
Não são muitos os locais que se podem gabar de ser duplamente Património Mundial da Humanidade. No Douro Superior, longe do bulício turístico da Régua e do Pinhão, Vila Nova de Foz Côa vive, discreta, esta sua singularidade. Entre dois rios que lhe ditaram a geografia e as distinções da UNESCO: do vale do Douro, reconhece-se o cenário ondulado em socalcos de vinhas que descem até ao rio e que enformam a imagem mais imediata do Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial — mas aqui a natureza foi menos domada e há uma vertigem rugosa na paisagem; do vale do Côa chegam segredos, às vezes apenas murmúrios, que atravessaram muitos milénios — em forma de gravuras rupestres que a UNESCO classificou, num processo invulgarmente rápido, por serem “um exemplo único das primeiras manifestações da criação simbólica humana e o início do desenvolvimento cultural”.
No topo do Museu do Côa (já um miradouro antes de os miradouros se tornarem moda) é onde melhor se abarca este território — não se vê, mas adivinha-se a união do rio Côa ao Douro na fundo da encosta. É um local quase simbólico da união dos dois patrimónios mundiais: o Douro tem o seu na Régua, as gravuras têm este museu — ambos são portas de entrada, um espaços de contextualização e resumo do que se vê no seu estado natural. No caso das gravuras, estas concentram-se no Parque Arqueológico do Côa, em três núcleos visitáveis, sempre com guias — do próprio parque ou dos vários operadores turísticos com licença para o fazer; no caso do Douro, num território de 24 mil hectares, cada visitante pode […]