A monitorização constante e a gestão dos recursos hídricos são essenciais para a prevenção de cheias em tempos de chuva, alertou hoje o vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), que defendeu, por outro lado, mais e melhor planeamento.
“Vamos ter de nos habituar a grandes períodos de ausência de precipitação, mas também à concentração de chuva no tempo, e a resposta a cheias faz-se através de várias dimensões”, começou por dizer José Pimenta Machado, numa apresentação feita a alguns jornalistas sobre o contributo da APA para a prevenção das cheias.
Uma dessas dimensões faz parte do trabalho desenvolvido diariamente pela agência, com a monitorização constante dos rios e das albufeiras, através do sistema de vigilância e alerta de recursos hídricos.
“Todo o nosso sistema é alimentado por mais de 900 estações higrométricas e pluviométricas”, explicou o vice-presidente da APA.
No total, são 917 estações, das quais 616 monitorizam a precipitação, a temperatura e a direção e intensidade do vento, em complemento com as estações meteorológicas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera.
As restantes 301 são estações higrométricas que permitem monitorizar, em tempo real e de forma automática, os níveis da água nas albufeiras e caudais.
“São os nossos olhos no terreno”, sublinhou o vice-presidente da APA, alertando, por outro lado, que todas as semanas são vandalizadas, em média, duas estações.
“Quando isso acontece, ficamos cegos”, lamentou.
É com base nessa informação, e nas previsões meteorológicas que depois a APA comunica às barragens a necessidade de libertar água, e em que níveis, para garantir aquilo a que Felisbina Quadrado, diretora do departamento dos Recursos Hídricos, se refere como “capacidade de encaixe”.
“Sempre que temos informação de que vamos ter um pico de precipitação, procuramos baixar (o nível da água) na barragem para que, quando a chuva se transformar em caudais que vão afluir à barragem, seja possível guardar essa água”, acrescentou José Pimenta Machado, explicando que, sempre que o caudal é excessivo, a APA alerta antecipadamente a Proteção Civil para o risco de cheia.
Foi precisamente esse o trabalho que foi feito, por exemplo, na antecipação do mau tempo de há duas semanas e que já está em curso em articulação com a barragem do Alto Lindoso, distrito de Viana do Castelo, face às previsões de chuva para os próximos dias.
Apesar desse esforço, o vice-presidente da APA considera que a monitorização e gestão dos recursos hídricos feitas pela agência não são suficientes para responder às cheias, e defende mais planeamento e melhor ordenamento do território.
“Não aumentar a exposição ao risco, não autorizar a construção em áreas de cheia”, exemplificou o responsável, referindo também a necessidade de projetos infraestruturais que passem por aumentar diques, renaturalizar linhas de água, ou construir túneis de drenagem, como aqueles previstos para Lisboa.
Um dos bons exemplos destacados pelo responsável é em Setúbal, onde, no inverno, um dos jardins da cidade se transforma numa bacia de retenção.
Noutro caso, em Cascais, foram criadas duas bacias de retenção na Ribeira dos Sassoeiros, além da instalação de novas estações higrométricas e pluviométricas que permitem à APA recolher informação, com base na qual são emitidos alertas à própria autarquia que, depois, avisa a população das zonas mais vulneráveis.
“É um trabalho que temos com Cascais, mas também com outros municípios e que queremos alargar a todo o país, percebendo bem que o clima está a mudar e temos de nos preparar e ter mais informação”, sublinhou José Pimenta Machado.
Durante a apresentação, o responsável fez também um balanço do estado das albufeiras portuguesas, que estão já a 77% da sua capacidade, em média, ainda que haja ainda três barragens abaixo dos 20% (Campilhas e Monte da Rocha, na bacia do Sado, e Bravura no Barlavento algarvio).
“Estamos muito mais confortáveis e mais bem preparados para este ano e para o seguinte, do ponto de vista da seca”, antecipou, referindo que a recuperação registada na barragem de Castelo do Bode, por exemplo, permite assegurar água para mais de quatro anos na região de Lisboa.
A chuva intensa e persistente que caiu nas últimas semanas causou milhares de ocorrências, entre alagamentos, inundações, quedas de árvores e cortes de estradas, afetando sobretudo os distritos de Lisboa, Setúbal, Portalegre e Santarém.