Como se reproduzem as árvores e ganham raízes em diferentes habitats? A resposta não é imediata, até porque existem diversas formas de reprodução, algumas dependentes de polinizadores (como abelhas e outros animais) ou até da intervenção humana, uma “ajuda” importante para a plantação de novas florestas e pomares, uma vez que as árvores não se movem.
Ainda assim, uma das formas como se reproduzem as árvores – a forma sexuada – tem muitas semelhanças com o que acontece no reino animal. A outra forma de reprodução, a assexuada, é bastante diferente.
Um poste de madeira ganhou raízes no meio da água, tornando-se na famosa That Wanaka Tree, e um caroço de cereja desenvolveu-se em cima de uma amoreira, dando origem à “Árvore dupla de Casorzo”, com duas copas. Dois exemplos de árvores nascidas em locais improváveis, os quais parecem confirmar que, com tantas formas de reprodução, nas árvores, “a vida encontra sempre uma maneira”.
Como se reproduzem as árvores de forma sexuada?
Na forma sexuada, a reprodução das árvores depende do órgão feminino (gineceu) e do órgão masculino (androceu), que se encontram nas flores. Tal como acontece com os animais, quando as células sexuais (gâmetas) masculinas se unem às femininas, ocorre a fecundação.
No caso das plantas e árvores, essa união ocorre com a polinização, quando o pólen produzido nas anteras do androceu chega à parte superior do gineceu (ao estigma) e germina. A germinação do grão de pólen dá origem ao tubo polínico, que vai crescer até chegar ao ovário. Aí, a fecundação dá origem às sementes, essenciais para gerar novas árvores.
Algumas flores têm ambos os sexos (possuem simultaneamente gineceu e androceu): são as flores hermafroditas. Outras têm apenas um: são chamadas, por isso, de flores femininas e flores masculinas. E consoante as espécies, as flores de cada sexo podem encontrar-se em árvores distintas (espécies dioicas, como a alfarrobeira ou o loureiro) ou numa mesma árvore (espécies monoicas, como a aveleira ou a azinheira).
Há, ainda assim, muitas nuances a considerar neste processo. Desde já, como é que os gâmetas masculinos e femininos se encontram? O encontro é feito por via da polinização – transferência do pólen para o gineceu -, que pode ocorrer de duas formas:
- Polinização direta ou autopolinização: quando os gâmetas masculinos e femininos estão na mesma flor (flores hermafroditas) e ocorre um processo de autofecundação.
- Polinização cruzada: quando os gâmetas masculinos de uma flor “viajam” e são depositados no estigma da flor de outra árvore. Para que esta “viagem” ocorra, é necessária uma intervenção externa. É esse o papel dos agentes polinizadores como o vento, a água ou os animais que transportam o pólen entre flores. As abelhas são os polinizadores mais conhecidos, mas outros podem desempenhar essa função, desde borboletas a morcegos, por exemplo.
A reprodução sexuada é fácil de compreender nas árvores que têm flores com pétalas – chamadas flores verdadeiras. Estas árvores integram o grupo das angiospérmicas e, além de terem flores verdadeiras, as suas sementes estão protegidas no interior do frutos. Este é o mais vasto grupo de plantas no planeta, onde se incluem muitas espécies comuns em Portugal, desde a laranjeira e amendoeira ao eucalipto.
No entanto, esta mesma forma de reprodução pode também ocorrer no grupo das gimnospérmicas, do qual fazem parte as árvores que não têm flores verdadeiras, nem frutos carnudos a proteger as sementes, como é o caso dos pinheiros, ciprestes ou sequoias.
Embora neste grupo das gimnospérmicas não existam flores com pétalas, as plantas têm estruturas florais, mais pequenas e que podem aparecer de forma isolada ou agrupadas em cachos ou espigas. É nas estruturas florais masculinas que se produz o pólen e o processo de polinização ocorre, tal como nas angiospérmicas, nas estruturas femininas, dando depois origem à semente.
Em contacto com o solo, a semente poderá então transformar-se numa nova árvore. Com terra, água e luz solar, a semente germina e nascem as primeiras folhas que, através da fotossíntese, produzem os nutrientes necessários ao desenvolvimento da árvore.
Sejam angiospérmicas ou angiospérmicas, as árvores demoram alguns anos até poderem reproduzir-se de forma sexuada. Esse número de anos até à maturidade (assinalada pela presença de flores ou estruturas florais) varia consoante a espécie e pode ser também influenciado pelo ambiente.
Sabia que a dispersão geográfica de cada espécie não acontece só na fase da polinização?
As sementes podem ser transportadas e gerar novas árvores noutros locais. Dependendo do tipo de sementes, elas podem ser levadas pelo vento ou pela água, ou seguir à “boleia” de animais.
As sementes podem ser armazenadas – por exemplo, para alimentação – e acabar por germinar noutra área, como é o caso dos esquilos, com as nozes e amêndoas. A disseminação pode também ocorrer quando os animais comem os frutos de uma árvore e depois as devolvem à terra, nas fezes, noutro locais. Ou as sementes podem, simplesmente, viajar agarradas ao pêlo de um animal.
A atividade humana também ajuda à reprodução sexuada e dispersão de novas árvores, seja pela colocação de colmeias em pomares e zonas florestais (para apoiar o processo de polinização), ou, numa fase mais avançada do processo, pela seleção de sementes e sua utilização em novas áreas com boas condições para o respetivo desenvolvimento.
Como se reproduzem as árvores de forma assexuada?
Nem sempre é necessário haver fecundação (reprodução sexuada) para que as árvores se multipliquem, uma vez que as plantas também têm capacidade de se multiplicar de forma assexuada. Mas como se reproduzem as árvores desta forma tão diferente?
Algumas espécies conseguem gerar descendentes a partir de partes da árvore-mãe (ou seja, da árvore original), através de caules ou folhas, por exemplo, que caem no solo, criando raízes. Outras, como os choupos, reproduzem-se através de novos rebentos que brotam das raízes.
Os espécimes gerados por reprodução assexuada são “clones” da árvore-mãe, iguais a ela, tanto geneticamente (no seu ADN), como morfologicamente (no seu aspeto exterior). Não têm a diversidade genética que resulta da combinação dos gâmetas dos progenitores (na reprodução sexuada), mas há vantagens neste processo: uma maior rapidez de reprodução e a possibilidade de multiplicar (propagar) árvores iguais, o que permite capturar na totalidade os benefícios das melhores árvores.
Esta capacidade tem sido aproveitada pelo ser humano para propagar as árvores com as características mais desejadas (com desempenho superior), de acordo com objetivos específicos. Por exemplo, tem sido usada para selecionar e propagar as árvores que têm desempenho superior na produção de frutos se o objetivo é instalar um pomar, ou as que têm troncos mais altos e retos quando se pretende a obtenção de madeira.
Este tipo de propagação – também chamado de propagação vegetativa – permite também clonar indivíduos com outro tipo de características relevantes, como a resistência às pragas e doenças ou a melhor adaptabilidade a um determinado tipo de solo ou a uma região onde há menos abundância de água. Tornou-se, por isso, numa ferramenta humana essencial do melhoramento genético florestal.
Existem diversas técnicas de propagação vegetativa que asseguram a reprodução das árvores:
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- Propagação por enxertia: juntam-se duas plantas diferentes num único pé, em que uma das plantas funciona como porta-enxertos (a parte de baixo, que contribui com as raízes ou sistema radicular) e a outra, como enxerto (contribuindo com a parte aérea). Esta é uma técnica usada, por exemplo, para antecipar a produção de pinhas em povoamentos jovens de pinheiro-manso.
- Propagação por estacas: plantam-se segmentos de caules com algumas folhas num substrato (uma mistura base na qual se faz a plantação e que contém os nutrientes para o desenvolvimento dos rebentos). É importante que o caule tenha alguns nós, de onde surgirão novos rebentos. Podem também ser usadas hormonas de enraizamento que estimulam o crescimento de raízes.
- Micropropagação: promove a cultura de células em laboratório (in vitro), o que permite a regeneração de plantas a partir de segmentos ainda mais pequenos da árvore-mãe (incluindo tecidos vegetais e até células individuais). Dependendo da espécie, a partir do rebento inicial, podem produzir-se milhões de novos rebentos em apenas um ano. A fase seguinte, o enraizamento, pode ser feito também in vitro, ou já num substrato (ex vitro).
As árvores são dos organismos com maior longevidade do planeta, embora o tempo médio de vida de cada espécie seja muito variável: cerca de 300 anos para a nogueira, 500 anos para a criptoméria e mais de 2000 anos para o teixo. E há algumas têm o potencial de viver “para sempre”, através (por exemplo) de estratégias de reprodução assexuada, como a rebentação a partir das raízes, que acontece, entre outras espécies, nos choupos e nas acácias.
O artigo foi publicado originalmente em Florestas.pt.