O Algarve está a morrer de sede. As autoridades nada fazem, para além da altaneira retórica ambientalista. É triste o espetáculo! E, no entanto, não era necessário chegar-se a este extremo…
O Algarve está sem água, o ano anterior já foi muito difícil, e a perspetiva a curto prazo é dramática para a Agricultura, onde pode acontecer o corte rente de laranjais, como forma de manter as plantas vivas (em Espanha já é isso que se faz…) e, pior ainda, para os Campos de Golfe, os eternos “malandros, capitalistas, etc.” que roubam a água ao povo, como se o País não vivesse, em primeira análise, do turismo, já que o restante tecido industrial foi deixado ao abandono.
E assistimos, incrédulos e em direto, à morte duma das suas mais bonitas regiões, com uma importante componente agrícola e onde todos gostamos de passar as férias, vindos do Norte, do Interior, de Lisboa ou mesmo do Alentejo.
A situação não é nova. O que fizeram os responsáveis, os Ministérios do Ambiente e da Agricultura nestes últimos anos, para além da costumeira soberba do já tradicional “não bebam, não reguem, não usem,”? NADA!!!
A Reabilitação dos regadios do Algarve, falada, analisada e estudada há décadas, não passou do papel. A Dessalinizadora, ótima para os noticiários e para as construtoras espanholas, aparecerá um dia, não sabe bem é quando, 3, 5 anos, com custos de água acrescidos e graves custos ambientais. As ETARs públicas, que deveriam de fornecer águas aos golfes, apresentam efluentes sem a qualidade suficiente para rega, algumas mesmo contaminadas por aquíferos salgados que não permitem o aproveitamento dos efluentes, mesmo os devidamente tratados.
“Sacudindo a água do Capote”, as Autoridades desculpam-se com as alterações climáticas, que tem larguíssimas costas, como se essas alterações não fossem já expectáveis há muitos anos, conforme mostram os estudos dessas mesmas Autoridades.
Falam da barragem de Odelouca, construída nos anos 80 e cuja água já não é suficiente, como prova desta “surpresa”, “esquecendo-se” de dizer que a Barragem era para ser construída mais a jusante, com uma maior bacia de apanhamento mas, por pressão dos ambientalistas, foi instalada a montante, contra o que diziam os estudos de engenharia. O resultado desta “grande vitória” das associações ambientalistas está à vista!
(O mesmo quiseram fazer com a barragem do Alqueva, propondo a redução drástica a sua altura. Felizmente não conseguiram ou estaríamos agora a assistir ao maior “flop” da história portuguesa…)
Da bombagem a partir do Pomarão, no Guadiana, uma excelente solução, fez-se um estudo, que andará perdido pelos gabinetes da Agência Portuguesa do Ambiente, como costuma acontecer, não se vê obra no terreno…
Entretanto, e olhando para as soluções previstas, constata-se que se está sempre em presença de “soluçõezinhas” envergonhadas, para não serem acusadas de “transvazes” (o Pomarão) ou de destruição do meio marinho (a Dessalinizadora) e que, mesmo se implementadas na totalidade, podem não resolver o problema a falta de água a longo prazo.
De facto, e face a consumos hídricos atuais no Algarve da ordem dos 240 hm3/ano, a Dessalinizadora irá produzir 25 hm3/ano, o uso de Efluentes Tratados (ApR) um volume da mesma ordem de grandeza, o Pomarão 20 a 40 hm3/ano, tudo, por junto, inferior a 100 hm3/ano! Centenas de milhões de euros para, daqui a 15 ou 20 anos, estarmos nas mesma…
Querendo resolver, de facto, o problema de falta de água no Algarve para os próximos 50 anos, O Transvase do Pomarão deve ser da ordem 8 m3/s, garantindo um volume anual de 100 hm3/ano, 3 vezes o previsto, no sentido de garantir resiliência. Com uma solução com 35 km de canal, e não em conduta fechada, como atualmente previsto, de modo a reduzir drasticamente os gastos energéticos… e ambientais.
A água virá do sistema Alqueva, onde será turbinada nas barragens de Alqueva e Pedrogão, produzindo, assim, mais eletricidade, do que a consumida na bombagem do Pomarão. Para evitar uma eventual futura intrusão salina (e para evitar dar água aos nossos amigos espanhóis … a não ser que queiram negociar…) deverá ser construído um açude, eventualmente rebatível, no Pomarão.
Custo desta intervenção? 60 M€, pouco mais do que os 50 M€ da Dessalinizadora, mas garantindo 4 vezes mais caudal e, principalmente, com custos muito reduzidos, cerca de 0,02 €/m3.
E se, a médio prazo, a água do Alqueva, que tem de acorrer a outros pedidos regionais, nomeadamente nos regadios confinantes, não chegar? Nessa altura, avança-se com a segunda fase do transvaze, recuperando a ideia do Plano de Rega do Alto Alentejo de 1953, a partir do açude do Fratel, no rio Tejo, bombando para a alta encosta, perto de Nisa.
Daí se desenvolverá um canal a meia encosta, ao longo de 115 km, passando por Nisa, Crato, Alter do Chão e Monforte, até atingir a cumeada da bacia do rio Caia, por onde entrará, graviticamente, num sistema com um caudal de 40 m3/s, reforçando todo o Alentejo e o Algarve com um volume anual de 800 hm3/ano.
Custo desta intervenção? 320 M€, com um custo da água (investimento + energia) bastante aceitável, de 0,12 €/m3.
E se, a longo prazo, a água do Tejo não for suficiente? Avança-se, então, com a terceira fase do transvase, a partir do Pocinho/Douro, recuperando a ideia do transvase através do rio Côa de 1950, na altura com base em barragens em cascata, agora, e para evitar a inundação do Parque Arqueológico do Côa, mediante um canal em contra-declive com 90 km, ao longo das encostas do Côa, com 3 escalões de bombagem, pondo a água na Barragem do Sabugal, a montante.
Aí, será usado o Túnel da Meimoa, já existente, que faz a ligação à barragem do mesmo nome, já na bacia do rio Zêzere/Tejo, garantindo o transvase para esta bacia dum caudal de 25 m3/s, num volume anual de 300 hm3/ano, reforçando, se necessário, os caudais do Tejo e tornando mais resiliente o Projeto Tejo.
A água segue, então, pela linha de água, até à Barragem de Castelo de Bode, onde se iniciará um canal de encosta, gravítico, com 95 km, de ligação à albufeira do Fratel, a montante.
Custo desta intervenção? 520 M€, com um custo da água (investimento + energia) bastante aceitável, de 0,13 €/m3.
Em conclusão, esta AUTOESTRADA DA ÁGUA, que permite trazer a água do Douro/Côa para o Zêzere/Tejo e deste para o Caia/Guadiana e, finalmente, Algarve, terá um custo de 0,22 €/m3, o que compara com o custo da água dessalinizada no Algarve, que será superior a 0,60 €/m3.
Manuel Campilho, Jorge Froes, Miguel Campilho
Veio a chuva … calaram-se os profetas da desgraça! Para o ano há mais …