As primeiras azeitonas galegas de mesa da Beira Baixa certificadas com a indicação geográfica protegida (IGP) começam a ser comercializadas nos próximos dias, para aumentar o rendimento dos produtores.
O presidente da Associação de Produtores de Azeite da Beira Interior (APABI), João Pereira, considerou que esta é uma forma de valorizar uma variedade tradicional que produz menos azeite e mais suscetível a doenças e pragas.
“Com isto queremos valorizar e dar oportunidade ao produtor de poder ter um rendimento adicional ao azeite, canalizando uma parte da produção para azeitona de mesa”, disse à agência Lusa João Pereira.
O responsável frisou que na Beira Baixa não se verificaram as dinâmicas de outras regiões, em que foram plantados grandes olivais intensivos, em grande escala, com outro tipo de variedades, e que esta é mais uma ferramenta para garantir a continuidade da azeitona galega, desde março de 2023 com a certificação IGP, através de um processo iniciado em 2017.
“A IGP só é atribuída a produtos que têm uma história, têm um saber e, sobretudo, têm uma ligação muito forte ao território, como acontece com a azeitona galega da Beira Baixa”, enfatizou à Lusa João Pereira.
Segundo o presidente da APABI, a intenção é tentar aumentar a receita dos produtores e contribuir para preservar e variedade.
“O intuito é disponibilizar aos nossos produtores um instrumento que valoriza a azeitona que eles produzem e os olivais, que são de sequeiro, que são tradicionais, e desta forma combater o abandono”, pormenorizou João Pereira.
De acordo com o responsável, canalizar alguma da azeitona para a conserva vai fazer com que os produtores sejam mais bem remunerados e ajude “a satisfazer o investimento que eles fazem ao longo do ano a cuidar dos seus olivais, mais difíceis de trabalhar”, devido à dificuldade em mecanizar a colheita e ao aparecimento de variedade que produzem mais azeite.
A separação da azeitona galega para conserva vai implicar maior cuidado na colheita, para poder ter boa apresentação à mesa.
João Pereira destacou que os estudos feitos pela Associação apontam para que o custo adicional que pode haver no setor da produção para azeite em relação aos cuidados adicionais para fazer conservas “são largamente ultrapassados depois pelo valor final do produto”.
O presidente da APABI referiu tratar-se de um produto que os avós e bisavós trabalhavam, em conservas caseiras, e esta é uma forma de recuperar esse costume, “utilizando os instrumentos ao alcance”, através da comercialização e de criar valor acrescentado.
João Pereira destacou o papel da APABI em garantir a continuidade da variedade e reforçou que a região é “um museu vivo” da azeitona galega da Beira Baixa, conservada segundo métodos ancestrais através de uma fermentação natural com flora endógena.
A designação IGP pode ser utilizada apenas por produtores e transformadores desta variedade de azeitona nas áreas circunscritas a todos os concelhos do distrito de Castelo Branco e Mação, no distrito de Santarém, desde que cumpram os requisitos necessários.
O responsável enalteceu a importância de preservar a azeitona galega e considerou a comercialização da azeitona de mesa certificada “o querer e o saber fazer de uma região, tendo como principais objetivos incrementar o rendimento dos olivicultores regionais, estancar o abandono do olival tradicional de galega no território e, talvez, despertar o interesse em novas plantações”.