A Associação de Produtores Florestais do Vale do Sado (ANSUB) alertou hoje para o impacto dos “furtos indiscriminados de cortiça” na atividade económica e na sustentabilidade ambiental das explorações do litoral alentejano, considerando ser importante “controlar os intermediários”.
De acordo com a ANSUB, em comunicado, trata-se de um fenómeno “que assola os seus associados” e que tem maior incidência nas explorações agroflorestais dos concelhos de Palmela, Alcácer do Sal, Grândola e Santiago do Cacém, no distrito de Setúbal.
“Há vários anos [que] esta situação se repete, com total impunidade para quem comete este crime contra o ambiente e a propriedade privada”, denunciou.
Segundo a associação, que representa perto de 200 produtores da região do litoral alentejano, “os furtos indiscriminados de cortiça” ocorrem, entre os meses de maio e princípio de agosto, durante a época de “descortiçamento dos sobreiros” em que se extrai a cortiça com vista à sua “valorização industrial”.
Contactado pela agência Lusa, o presidente da ANSUB, Pedro Silveira, revelou que este ano a situação piorou devido à “impunidade deste tipo de furtos” e aos meios que são utilizados por quem comete este tipo de crimes.
“Este ano, as coisas não estão a correr nada bem. As autoridades policiais têm baixado um bocado os braços, porque muitas das vezes quando as pessoas são levadas a Tribunal rapidamente são postas em liberdade sem grandes consequências”, argumentou.
Por outro lado, acrescentou, “são roubadas cortiças de todo o tipo, muitas vezes com poucos anos de criação, entre quatro e seis anos, valendo tudo”.
“Nos outros anos, os furtos visavam cortiças com oito a nove anos, já em prancha para serem valorizadas” pela indústria e transformadas “em rolhas”, explicou Pedro Silveira.
Segundo o dirigente, “estas redes estão equipadas com máquinas de triturar cortiça” que lhes permite “colocar a cortiça no mercado já triturada, em vez de ser vendida em pranchas, apagando, desta forma, o rasto da cortiça”.
No comunicado, a associação, que tem sede em Alcácer do Sal, indicou que, ao longo dos anos, foram feitas várias tentativas para “dissuadir estes furtos, por parte dos proprietários”, como a colocação de vedações, pintura da cortiça, aumento da vigilância nas explorações e queixas junto da GNR.
Mas “a situação persiste com furtos contínuos de cortiça de todas as idades e com danos significativos nos troncos das árvores que levam à destruição da sua capacidade produtiva”, alertou.
“Muitas vezes tiram a cortiça de qualquer maneira, deixam as árvores cheias de golpes, praticamente inutilizadas, e a capacidade produtiva dessas árvores que demoraram 50 anos para dar cortiça de qualidade é diminuída para sempre”, lamentou Pedro Silveira.
No comunicado, a associação considerou ainda ser “importante controlar os intermediários que possam usualmente adquirir cortiça furtada, controlando estes pontos críticos”.
“A impunidade dos prevaricadores destes furtos de cortiça encoraja a reincidência dos criminosos, bem como a disseminação desta prática. A efetiva repressão destes crimes é absolutamente premente e crucial para a conservação de um ecossistema único baseado na Árvore Nacional de Portugal”, defendeu.