Os municípios de Alcanena e Torres Novas arrancaram com o projeto Ouro Líquido, para valorizar o olival tradicional, mas a iniciativa deverá ser alargada aos restantes concelhos do Parque Natural das Serra de Aire e Candeeiros, revelou fonte oficial.
“O arranque, de facto, ocorreu em meados deste ano e, no primeiro trimestre do próximo ano, já teremos o plano de ação para estes dois concelhos [Alcanena e Torres Novas]. Depois vamos reproduzir, digamos, o trabalho feito aqui nos restantes cinco concelhos do Parque Natural”, afirmou à Lusa Rui Anastácio, presidente da Câmara de Alcanena.
Segundo o autarca eleito por uma coligação PSD/CDS-PP/MPT, na avaliação do território do distrito de Santarém, “30% da área do concelho de Alcanena é olival” e, o vizinho de Torres Novas “tem uma realidade muito similar”, resultando num protocolo para um projeto comum denominado Ouro Líquido.
O projeto visa “olhar para o olival tradicional” e perceber como é que se pode “recuperar essa imensa tradição e valorizar um azeite que pode ser de excelência se for bem trabalhado e bem comercializado”, explicou Rui Anastácio.
“O que acontece atualmente é que o baixo custo, o baixo valor do azeite, embora este ano até esteja a subir percentualmente, de uma forma considerável, não justifica trabalhar o olival tradicional e, portanto, o olival tradicional estará rentabilizado em 10%, se tanto”, acrescentou.
Nesse sentido, prosseguiu, iniciou-se um “processo de diagnóstico nos dois concelhos” com Luís Melo, com experiência nas agroindústrias e na exportação, e foi iniciado “um diálogo muito estreito com olivicultores e lagareiros”, com vista a “olhar para toda a fileira do azeite”.
Passando o projeto à prática, a autarquia promoveu, em 13 e 14 de setembro, em Serra de Santo António e Malhou, sessões de apresentação, que registaram “uma adesão muito significativa por parte da população”, decorrendo atualmente a “fase de entrevistas individuais”, para “fazer a radiografia” que levará ao “plano de ação”.
“Basicamente, o nosso objetivo é valorizar o nosso azeite e conseguir colocá-lo nos mercados a 20, 30, 40 euros o litro”, apontou o autarca, considerando que, com esse o objetivo, “já justifica que, de alguma maneira se regresse à terra”, na valorização do olival, a “maioria de variedade galega”, entre outra, “que permite fazer um azeite de altíssima qualidade”.
Mas, o projeto só terá sucesso “em estreita colaboração” com os vários atores, pois “ou é feito de baixo para cima ou a coisa não resultará”, salientou.
Depois, além de estruturar uma equipa técnica à volta do projeto, vão “tentar alargá-lo aos sete concelhos” do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) – Alcanena, Alcobaça, Ourém, Porto de Mós, Rio Maior, Torres Novas e Santarém –, promovendo “a valorização dos produtos autóctones, com um enfoque muito especial no azeite a partir do olival tradicional”.
“As sete câmaras já estão alinhadas também neste processo […] debaixo do chapéu de uma intervenção territorial mais alargada, que é o processo de cogestão do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, cujo plano estará para discussão pública, se tudo correr como planeado, em novembro, e pensamos poder apresentá-lo à tutela em novembro, dezembro”, adiantou Rui Anastácio.
Nos planos cabem ainda a ligação aos olivicultores, às empresas, ou através do agrupamento de produtores, para “encontrar os melhores modelos” para valorizar o azeite do olival tradicional e “a produção em modo biológico”, procurando “puxar a Academia também para este processo”, que “será longo”, mas para levar “em frente”.
“Claro que não vamos chegar a produções, às produções que existiam há 50 ou 60 anos, mas acima de tudo, penso que temos que conseguir chegar a azeite de altíssima qualidade, que possamos comercializar nos melhores mercados, naqueles que são capazes de valorizar o nosso azeite pelo preço justo”, vincou.
O plano global de investimentos no PNSAC, que está a ser desenhado, será “na ordem dos 30 milhões de euros”, e no projeto específico do Ouro Líquido os valores podem atingir “na ordem de um milhão, um milhão e 200 mil euros para quatro anos, para os sete concelhos”, estimou.
O projeto terá “uma vertente também de investimento no olival, na capacitação, nos lagares, na comercialização, marketing” e “uma vertente de olivoturismo”, olhando para as oliveiras milenares e para “as estruturas de apoio ao olivoturismo”.
Numa nota enviada à Lusa, a autarquia adiantou que a construção de “uma estratégia olivoturística” passa por integrar “produtos locais, gastronomia, natureza, paisagem rural, cultura e património, que possa aportar valor económico e social às comunidades rurais destes territórios do Médio Tejo”.