Ao serviço da agricultura portuguesa ao longo dos últimos 33 anos, a AGRO.GES tem procurado potenciar a continuidade da experiência, através da transferência inter-geracional de conhecimento, de perspectivas e motivações. Neste sentido, identificámos como interessante a oportunidade de reflectir sobre diversas questões no âmbito da agricultura portuguesa e do trabalho desenvolvido pela AGRO.GES ao longo das três últimas décadas. Para tal, procurámos abordar em conjunto algumas questões relevantes, combinando a visão de duas gerações AGRO.GES através de pais e filhos. Lançámos este desafio ao Professor Francisco Avillez (FA) e à Manuela Nina Jorge (MNJ), ambos sócios fundadores, em paralelo com as novas gerações, pela visão da Inês Avillez (IA) e do Gonçalo Vale (GV).
Como começou a AGROGES?
“Portugal tinha acabado de entrar na comunidade europeia e o grupo principal que criou a AGRO.GES partiu de um trabalho para a fundação luso-americana no Norte do País e foi incentivado pelos parceiros da Universidade de Stanford como extremamente necessário para apoiar a agricultura portuguesa no seu processo de transformação. O que mais me apaixonou foi o desafio de poder vir a contribuir para o desenvolvimento da agricultura portuguesa.” – MNJ
Quais as maiores transformações que ocorreram no sector agrícola português desde então?
“Foram muito significativas as transformações sócio-estruturais e técnico-económicas que caracterizaram a evolução da agricultura portuguesa nas últimas décadas e, em particular, nos últimos anos. Neste contexto, é de realçar as respostas produtivas e tecnológicas que os agricultores portugueses têm vindo a dar às pressões que sobre eles têm vindo a ser exercidas pelas questões ambientais e da saúde humana, num contexto político-institucional em constante mudança e, muitas vezes, adverso.” – FA
De que forma evolui a AGRO.GES com o sector agrícola português?
“Durante as últimas três décadas, a AGRO.GES tem procurado estar sempre presente na análise de todos os novos temas e solicitações de âmbito empresarial, sectorial e nacional que a evolução da agricultura portuguesa tem vindo a levantar. É uma atitude e disponibilidade que lhe permitiu tornar-se uma referência indiscutível no contexto da discussão dos problemas agro-alimentares e florestais nacionais” – FA
De que forma avançou o sector agrícola português durante as últimas três décadas com os serviços da AGRO.GES?
“O setor agrícola ao longo das três últimas décadas teve várias fases de desenvolvimento com várias tendências em função dos sinais da PAC e do mercado. A AGRO.GES desenvolveu vários serviços inovadores para apoio à agricultura portuguesa nomeadamente o desenvolvimento de um software de apoio à contabilidade de gestão que começou em 1990, logo após o meu MBA e por lembrança de uma jovem agricultora que precisava deste apoio (este software foi a raiz da AGROGESTÃO, empresa participada pela AGRO.GES). O serviço de planeamento estratégico às explorações agrícolas que permitiu a muitos agricultores saberem quais as atividades que deveriam implementar de acordo com as condições edafo-climáticas, as perspectivas de mercado, os apoios existentes, os recursos necessários quer de terra, capital e recursos humanos. Claro que sempre de acordo com as necessidades dos clientes. Existiram importantes contributos no apoio das várias reformas da PAC, quer ao nível do apoio ao ministério da agricultura, quer ao nível do apoio aos agricultores nas simulações da Reforma da PAC, com propostas de adaptação com vista a aproveitar as novas oportunidades ou a minimizar os potenciais impactos. Fizemos também importantes trabalhos ao nível de financiamento do setor, quer seja a nível dos incentivos a fundo perdido quer a nível do financiamento bancário como complemento do investimento em capital próprio. Relativamente aos fundos de investimento, temos vindo a acompanhar a sua entrada no setor agrícola português, quer seja na seleção de ativos, pela avaliação do seu potencial e validação de condicionantes, quer pela implementação de planos de sustentabilidade, exigidos pelos novos referenciais ESG. Temos também desenvolvido muitos trabalhos setoriais, como por exemplo para o tomate de indústria, para a fileira dos fertilizantes e da protecção de culturas, para as máquinas agrícolas, quer seja na adaptação às novas regras, quer na procura das novas tendências de mercado. Temos apoiado também as organizações de produtores no seu reconhecimento, assim como no apoio à definição de diversos programas operacionais. Temos também vindo a apoiar as avaliações de políticas do setor, assim como ajudado na estratégia para o futuro é exemplo disso a avaliação do POSEI, assim como os planeamentos estratégicos do setor do leite e carne dos Açores” – MNJ
AGRO.GES desde quando?
“AGROGES desde quase sempre! Assisti em casa e através do meu Pai a todo o entusiasmo com a sua constituição, ainda a AGRO.GES não tinha nome. Cheguei a fazer trabalhos como tarefeira, a introduzir dados. Mais tarde fiz um estágio e acabei por ficar até agora. O empenho de todos, o espírito familiar, sem descorar o rigor foi o que sempre me atraiu na AGRO.GES. Ao longo do tempo a linha continua a mesma e a experiência, o respeito, o profissionalismo, a integridade, a seriedade e preocupação de fazer bem dos fundadores continua a estar todos os dias presentes em nós. Continuar a olhar para a AGRO.GES, empresa com mais de 30 anos e acreditar que vai permanecer por mais 30 através da sua inovação e profissionalismo constante” – IA
O que têm os mais novos aprendido dos mais antigos?
“Os mais antigos têm-me permitido uma aprendizagem constante ao longo destes 4 anos, desde que entrei na AGRO.GES em fevereiro de 2018. Aquilo que aprendi dos mais antigos e que mais retenho são a dedicação, o rigor e a resiliência do dia-a-dia, como devemos responder aos problemas, encontrando sempre soluções, nunca virando as costas, e com a qualidade e sorriso de sempre. Devo-lhes toda a evolução ao longo destes anos, a partilha de conhecimento adquirido ao longo de uma vida tem sido fundamental para o crescimento dos mais novos e da empresa.” – GV
“Que as dificuldades são para ser ultrapassadas, que os prazos são para cumprir, que a palavra dada é uma questão de honra e o respeito profissional é regra de honra, que nem todos são iguais, mas todos podem dar valor acrescentado à empresa.” – IA
O que têm os mais antigos aprendido dos mais novos?
“Tenho aprendido com os mais novos o pôr tudo em causa e poder sair fora da caixa, para além da capacidade de adaptação às novas tecnologias e ainda o ajudar a perceber as novas tendências das novas gerações.” – MNJ
E um defeito das novas gerações?
“As novas gerações têm também um maior nível de exigência do que nós tínhamos e por isso não aceitam certas coisas que a minha geração não punha em causa.” – MNJ
Quais os três maiores desafios para o futuro da agricultura portuguesa (nos próximos 30 anos)?
“Alcançar ganhos significativos de produtividade económica por parte dos sistemas e estruturas de produção agrícola e florestal que tenham condições para vir a ser competitivos no contexto de mercados cada vez mais alargados e concorrenciais e sujeitos a uma procura cada vez mais exigente do ponto de vista do Ambiente e da Saúde Humana e Animal. Viabilizar economicamente os sistemas de ocupação e uso do solo que, não tendo condições para ser competitivos, possam vir a desempenhar funções relevantes do ponto de vista do combate às alterações climáticas, da gestão dos recursos naturais, da biodiversidade, das paisagens agrícolas e da coesão económica e social das zonas rurais mais fragilizadas. Incentivar a inovação e a internacionalização das diferentes componentes dos sectores agro-alimentar e florestal nacionais. Para acompanhar as exigências futuras do sector, a AGRO.GES deve ser capaz de obter as competências técnico-científicas indispensáveis para analisar e recomendar as mudanças futuras no contexto da competitividade, da sustentabilidade e do desenvolvimento rural.” – FA
“Inovar e responder a novos mercados. Responder às exigências do mercado, cada vez mais exigente em termos ambientais, sociais e de bem-estar animal, mas sem pôr em causa a produtividade económica do setor. Reverter a imagem que parte da população tem do setor agrícola e florestal, demonstrando a sua importância para o país e como são estratégicos para diversos problemas que estamos a enfrentar aos dias de hoje, tais como o êxodo rural, as alterações climáticas ou a perda de biodiversidade, reforçando o seu poder negocial.” – GV
Se a AGROGES fosse uma cultura/fileira agrícola portuguesa, qual seria?
“Se a AGRO.GES fosse uma fileira seria uma fileira em que a qualidade, a credibilidade, o fato à medida com rigor e constante inovação e transformação seria o privilégio. Por estas razões opto pela fileira do vinho em que se junta a tecnologia da produção no campo, com a experiência, a tecnologia, o saber fazer, a inovação e finalmente a junção da juventude com a maturidade e a gosto do cliente. Nesta fileira as questões climáticas e de sustentabilidade puseram-se por antecipação a muitas outras e é ainda uma bandeira portuguesa.” – MNJ
“No meu entender a fileira da cortiça poderia caracterizar a AGRO.GES por ser uma fileira que perdura no tempo, muito importante para o país e respetivos setores, de extrema importância para os produtores agrícolas e florestais, que se mantem estável e resiliente ao longo do tempo, e que se tem sabido inovar e encontrar novas soluções para responder às oportunidades.” – GV
Se tivesse que definir um lema para o futuro da AGRO.GES, qual seria?
“Trabalho árduo e profissionalismo compensam sempre!” – IA
É mais difícil criar ou manter?
“Manter, criando!” – FA
Francisco Avillez
COORDENAÇÃO CIENTÍFICA
E METODOLÓGICA
favillez@agroges.pt
Manuela Nina Jorge
DIRECTORA FINANCEIRA
mnjorge@agroges.pt
Gonçalo Vale
COLABORADOR TÉCNICO
gvale@agroges.pt
Inês Avillez
ASSESSORA DE DIRECÇÃO
iavillez@agroges.pt
O artigo foi publicado originalmente em AGRO.GES.