Em Novembro de 2002, tive oportunidade de visitar a agricultura do Canadá, o segundo maior país do mundo, com uma área de quase 10 milhões de km2 e 30 milhões de habitantes, o que dá uma densidade de 3 habitantes por km2 (Portugal tem 123 hab/ km2). Sendo muito extenso, o Canadá tem climas diferentes, desde o polar a Norte até ao temperado da faixa atlântica, mas é basicamente um país frio. Visitei os estados do Quebec e Ontário.
A raça Holstein-frísia (preta e branca), originária do Norte da Europa, levada para a América há pouco mais de um século, foi alvo de seleção ao longo dos anos, de modo que hoje Canadá e EUA são os maiores exportadores mundiais de genética animal no sector leiteiro. Sendo a viagem organizada pela empresa canadiana que reúne as maiores cooperativas do sector para exportação da genética canadiana para 70 países, o programa incluiu visitas a 17 vacarias, 2 centros de inseminação artificial e 2 concursos de animais.
Das visitas às vacarias, destaco o acolhimento dos agricultores canadianos (café quente e bolinhos em todas as explorações), o cuidado posto na limpeza dos estábulos (impecavelmente limpos e pintados) e dos animais (muitas das vacas lavadas e tosquiadas). Em todos os locais visitados se percebia o cuidado e a atenção dedicados aos animais.
Num pavilhão onde habitualmente os canadianos assistem ao seu desporto favorito (hóquei no gelo), visitámos o concurso regional do Quebec, onde foram eleitas as vacas “mais bonitas” da região levadas a concurso nas diversas categorias etárias. Atenção: uma vaca não é considerada bonita por causa do desenho das pintas, mas pela avaliação de um conjunto de parâmetros (o “tipo”) definidos pelos especialistas em todo o mundo, relacionados com o tamanho do animal, saúde de pernas e pés, forma do úbere, que vislumbrem uma boa produção num animal saudável, com uma vida longa.
Passados uns dias, reencontrámos alguns dos vencedores desse concurso no grande concurso nacional da Royal Show – Agricultural Winter Fair, (Feira Agrícola de Inverno) em Toronto.
Enquanto os criadores se concentravam no concurso para eleger a vaca mais bonita do Canadá, o salão anexo, onde estavam os stands das empresas fornecedoras do sector, associações e organismos oficiais, foi literalmente invadido por centenas de crianças da região, crianças do meio urbano, que vieram descobrir a agricultura, os animais, as plantas, o meio rural, recebendo um “passaporte educacional” que tinham de carimbar nos diferentes stands educativos, através de teatros, jogos, concursos, onde podiam ver como se faz a ordenha, por exemplo. Explicava-se como se produzem os alimentos, como os animais são tratados, o que se faz para proteger o ambiente.
Apesar de ter chovido sempre que deixámos a parte profissional e fizemos turismo, visitámos, entre outros locais, Montreal (magnífica Catedral de Nossa Senhora), Toronto (estivemos a 450 metros de altura na CN Tower) e as cataratas do Niagara (pena o frio).
A recordar: O espaço imenso, o verde, o frio, a neve, o calor humano do acolhimento, o profissionalismo, o cuidado com os animais e as peripécias da viagem. Na chegada ao Canadá, com medidas de segurança reforçadas por causa do ataque às Torres Gémeas no ano anterior, fomos interrogados duas horas na alfândega, pois suspeitaram que fossemos um grupo de imigrantes ilegais. A viagem de regresso demorou 24 horas, atrasada pelas medidas de segurança, lavagem da neve sobre o avião, resolução de uma avaria, tendo o piloto dito que “pensava” que estava resolvida, perda do voo de ligação em Paris e evacuação do terminal sob suspeita de bomba por bagagem abandonada… mas voltámos todos bem.
O artigo foi publicado originalmente em Carlos Neves Agricultor.