A Associação de Produtores Agrícolas de Precisão (APAP) manifestou-se hoje chocada com a redução do perímetro de rega integrado na construção da Barragem do Pisão, no concelho do Crato (Portalegre), defendendo a sua ampliação para servir o setor agrícola.
O presidente da APAP, José Maria Falcão, que falava na Comissão de Agricultura e Pescas na Assembleia da República, a pedido do partido Chega, começou por recordar que, em 2019, a Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA), responsável pela execução do projeto, avançava que a barragem iria regar “12 mil hectares”.
“Qual é o nosso espanto quando, em 2023, há um anúncio oficial do estudo”, no qual indicam que a área a regar é de 4.663 hectares, afirmou.
José Maria Falcão frisou que, mais tarde, foi “com surpresa” que a APAP verificou que 2.043 hectares já existiam como regadio.
De acordo com o presidente da APAP, tecnicamente este projeto só vai servir 2.620 hectares de novos regadios.
“Não há 4.600 [hectares], não há oito mil, não há 12 mil, há unicamente 2.620 [hectares]. E nós perguntamos, com toda a razão, chocados, como é que se pode fazer uma obra deste tamanho para regar tão pouco”, questionou.
Além de criticar a falta de diálogo da CIMAA para com a APAP neste processo e um “conjunto de erros” que envolvem o projeto, José Maria Falcão alertou ainda para os custos que o sistema de rega implica.
“Para regar os 8.900 hectares que estavam previstos em 2010, com 50 milhões de euros, vamos regar um terço disto com 47 milhões de euros, o valor aumentou o custo da obra, mas o que é certo é que a área regada diminuiu quase 70%”, disse.
A APAP recordou ainda que, em fevereiro deste ano, reclamou junto do Governo a correção do projeto do perímetro de rega integrado na construção da Barragem do Pisão.
Numa carta enviada à ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, a que a agência Lusa teve acesso na altura, a APAP considerava que o projeto da barragem foi discutido de forma “muito genérica”.
Na Comissão de Agricultura e Pescas, José Maria Falcão lamentou nunca ter obtido uma resposta por parte da ministra.
O Empreendimento de Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos (EAHFM) do Crato, também conhecido por Barragem do Pisão, vai envolver um investimento total de 171 milhões de euros, dos quais 120 milhões estão inscritos no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
A Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA) é a responsável pela execução do projeto e, segundo o cronograma submetido à Comissão Europeia, as obras de construção da Barragem do Pisão estarão terminadas em julho de 2026.
Com a empreitada, a aldeia do Pisão, com uma centena de habitações e 70 residentes, ficará submersa, o que vai obrigar a construir uma nova aldeia e a deslocalizar os habitantes dentro de três anos.
A Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo é composta pelos municípios de Alter do Chão, Arronches, Avis, Campo Maior, Castelo de Vide, Crato, Elvas, Fronteira, Gavião, Marvão, Monforte, Nisa, Ponte de Sor, Portalegre e Sousel.